O RESPEITO À SINGULARIDADE HUMANA: A POSTURA DO PSICOTERAPEUTA BIODINÂMICO, ATRAVÉS DA METÁFORA DO PATINHO FEIO.
Resumo:
O presente artigo tem por objetivo estabelecer conexões entre alguns dos conceitos de Winnicott e da Psicologia Biodinâmica de Gerda Boyesen, usando para isto a metáfora do Patinho Feio em duas versões. Diferente do habitual proponho que o foco recaia sobre a Mamãe Pata, ela é o protagonista central nos dois contos, pois, sua postura em relação ao Patinho Feio é determinante em seu processo de desenvolvimento. Cabe ressaltar que o Patinho Feio representa aqui todos que sentem uma identificação estrutural ou temporária. Ser amado nos enraíza, nos dá um lugar, é um início de Ser, o Pertencer. Se a mãe falhou severamente por diversos motivos, temos a oportunidade de nos implantar novamente. Um terapeuta imbuído de amor e manejo terapêutico pode promover a reparação de nossa “criança ferida” para que o processo de maturação possa então se desenvolver.
O RESPEITO À SINGULARIDADE HUMANA: A POSTURA DO PSICOTERAPEUTA BIODINÂMICO, ATRAVÉS DA METÁFORA DO PATINHO FEIO.
SOBRE DUAS VERSÕES DO CONTO DO PATINHO FEIO
Conto clássico escrito pelo dinamarquês Hans Christian Andersen em 1843, O Patinho Feio fala da história de um patinho nascido (atrasado) em uma família com vários outros irmãos nascidos na hora certa e esperada e com a beleza de todos os patos, os filhos ideais. Já o Patinho Feio, começou mal. Aborrecida e impaciente com a demora, a D. Pata dá umas bicadas no ovão para ele se romper logo. Ao deparar-se com um filho tão diferente dos demais, ficou intrigada achando que poderia ser filho da perua (além de chocada, pois ela o achou feio e desajeitado). E para saber se de fato era seu filho, levou-o até o lago e ele teve que provar que sabia nadar como seus irmãos patos normais. Ele nadou, portanto, não era um peru, deveria ser seu mesmo! Ele não era de maneira alguma a imagem do filho idealizado da D. Pata, muito pelo contrário, foi um choque com a realidade, ferindo seu narcisismo materno. Esse filho real não possuía os padrões de beleza da realidade a qual pertencia, e muito difícil era lidar com essa diferença. Todos os animais da fazenda o desprezavam, ridicularizavam e o rejeitavam, inclusive, seus irmãos. Até que o mais grave aconteceu: D. Pata, que a princípio o protegia dos demais, desistiu dele e começou a desejar que ele desaparecesse ou morresse. E o Patinho Feio fugiu triste e solitário, em sua longa caminhada em busca de si mesmo sem nunca ter se sentido verdadeiramente amado. Em outra versão do conto em DVD, bem mais recente (2005), com roteiro do escritor brasileiro Mario Roberto da Silva, o protagonista Patinho Feio apesar de também ser feio, desajeitado, rejeitado, hostilizado e perseguido pelos irmãos e outros animais, vítima de preconceito e estereótipos sociais; apesar de também não se sentir pertencente a um lugar, a uma comunidade, pois sua diferença era o fator determinante da zombaria e agressão, o que inevitavelmente também afetou sua autoestima e o deixava muuuito triste, e ele também foi embora sozinho, etc… Apesar de tudo isso, que aparentemente torna o conto igual, há um personagem cuja conduta em relação ao Patinho Feio vai construindo nele uma verdadeira fonte\referência de segurança básica. Pois é, esse Patinho Feio tem uma MÃE, digamos, no mínino, amorosa e cheia de boas intenções. Chama muito a atenção algumas posturas e falas da Mamãe Pata: Por exemplo, diante do ovo não nascido, ao invés de bicá-lo com impaciência: __ “Mas o que está acontecendo com você filhinho querido? Por que você não nasce como seus irmãozinhos? Vamos, nasça logo! Eu não vejo à hora de olhar para a sua carinha linda e enche-la de beijinhos. Bom, enquanto isso não acontece, eu não vou largá-lo um só minuto porque enquanto você estiver dentro deste ovão significa que eu ainda estou grávida.”. Ou ao conhecê-lo: __ – “Ah, mas que coisinha mais fofa. Viva meu filhinho querido. Eu não posso admitir que é belo e majestoso, mas que essa preciosidade é muito engraçadinha, ah isso ele é! Possui olhos grandes de uma vivacidade contagiante. Uma cabeça enorme: é para que caiba toda sabedoria do mundo. Como sou sortuda por ter parido esse pimpolho amado. Mamãe está muito orgulhosa de você. Mamãe lhe tem muito carinho. É tanto amor que chega a doer. Essa alegria imensa explode dentro do meu peito. Bem vindo meu filho!” E, finalmente, como ela protegia seu filho: Mamãe Pata, raivosa, voou em direção à Vaca da fazenda, que como todos os outros, falavam mal do Patinho Feio: “__ Pare com isso, não seja fofoqueira. Pare de falar mal do meu filhinho, uma criancinha que acaba de nascer. Você pode deixá-lo com complexo! Será que eu vou ter que ficar repetindo para todo mundo: deixem meu filho ser o que ele é, e olhem para ele com olhar do coração, porque se fizesse isso, verão que ele é a criaturinha mais boa e linda de todo o mundo!” Mais importante é perceber que em momento algum ela foi “perfeita” – ela teve o sonho de ter apenas os patinhos lindos iguais a todos os patos, ela pode ter até negado/sublimado/projetado/eticeteretado (como já adoraram alguns colegas me dizer) e ao invés de assumir a rejeição, acionou mecanismos de defesa vendo qualidades em seu filho. É uma questão de ponto de vista: o meu é de que uma mãe realmente é capaz de amar seu filho incondicionalmente, mesmo que este não lhe preencha um lugar de poder, status, falo ou sentimentalismo. Críticas à Mamãe Pata não faltam, pois entramos, todos, no arquétipo da mãe perfeita, disponível, infalível, sábia, amorosa, saudável, forte, sensível, determinada, flexível, inteligente, humilde, generosa, doadora, compreensiva, paciente. No entanto, foi uma mãe verdadeira: lidou com a situação inusitada de ter um ovo não nascido e patinhos precisando exercitar-se, de tal forma que buscou adequar-se à necessidade de todos e cada um dos seus filhotes e não bicar o ovo e igualar o processo, ficando assim melhor para ela. E não muito diferente do conto clássico, o Patinho Feio vai embora, mas não porque a mamãe pata desistiu dele. Em hipótese alguma, gostaria que a sua amada mãe, ao defendê-lo, viesse a se magoar. Então, esse Patinho sentiu-se suficientemente amado por sua mamãe, tanto é que, mesmo com muito sofrimento com a separação, no final desta versão eles se encontram.
O RESPEITO À SINGULARIDADE HUMANA: A PSICOLOGIA BIODINÂMICA E A MÃE SUFICIENTEMENTE BOA
A Psicologia Biodinâmica, é uma das abordagens da Psicologia Corporal, criada pela norueguesa Gerda Boyesen (fisioterapeuta e psicóloga), ela tem formação reichiana, e fez terapia com Ola Raknes, importante discípulo de Reich. Para o objetivo do presente artigo, cito a descrição do Instituto Brasileiro de Psicologia Biodinâmica: A Psicologia Biodinâmica propõe-se a ser uma visão de mundo em que corpo e mente são elementos de um mesmo organismo, na qual o ser humano é visto como vivendo em função de dois movimentos: a homeostase, ou seja, a busca do equilíbrio e da autoregulação; e a evolução pela mudança e pelo movimento.Tem como princípio o respeito à singularidade de cada ser humano, buscando incentivar sua criatividade, potência e espontaneidade de forma afetiva, tolerante e não invasiva. Enfatiza o amor, o prazer, o conhecimento, o trabalho e a espiritualidade como fundamentos de uma existência plena. Encontra aplicação prática na Psicoterapia Biodinâmica, que, partindo do cuidado com a relação terapêutica, elemento primordial do processo, propõe-se a perceber cada pessoa como única, propiciando uma intervenção adaptada às suas necessidades e possibilidades e que lhe permita conscientizar o que é inconsciente em um processo gradual e profundo. Enfatiza a proposta de fazer amizade com a resistência e dissolver couraças sem quebrá-las, A Psicoterapia Biodinâmica propõe um setting tranqüilo, sem imposições, não invasivo, baseado na vivacidade relacional, na atenção à relação terapêutica em seus vários aspectos. Numa linguagem winnicottiana, poderíamos dizer que o psicoterapeuta busca mostrar-se atento e responsivo aos gestos espontâneos, sua tarefa é a identificação e facilitação do gesto interrompido para que o paciente se desenvolva a partir do contato com seu self verdadeiro. (IBPB) D. W. Winnicott, pediatra inglês, iniciou sua vida profissional na década de 20, num hospital infantil. Inconformado com as explicações puramente orgânicas, dedicou-se ao estudo da psicanálise, desenvolvendo suas pesquisas de forma independente. Para Winnicott cada ser humano traz um potencial inato para amadurecer, para se integrar, no entanto, apesar de inato, trata-se de uma tendência e não de uma determinação. Para que se realize, o bebê depende fundamentalmente da presença de um ambiente facilitador que forneça cuidados suficientemente bons, sendo que, no início, esse ambiente é representado pela mãe. “Mãe Suficientemente Boa”. É importante ressaltar que esses cuidados dependem da necessidade de cada criança, pois cada ser humano responderá ao ambiente de forma própria, apresentando, a cada momento, condições, potencialidades e dificuldades diferentes. A MÃE SUFICIENTEMENTE BOA
- É aquela capaz de se adaptar, reconhecer e atender as necessidades do bebê (sem impor as suas), as quais oscilam e evoluem no percurso para a maturidade e a autonomia.
- É presente, não impõe seu ritmo, cuida sem invasão, mantém o ambiente previsível.
- É uma mãe real e espontânea, consistente em ser ela mesma, pois cialis generic esta é uma das fontes de que o bebê necessita para a aquisição da confiança.
- É falível exatamente porque é humana. Não é perfeita e não busca ser.
- Identifica-se com seu bebê, regredindo parcialmente, tornando-se capaz de reconhecer e atender a dependência absoluta do recém-nascido; ao mesmo tempo em que conserva seu lugar adulto e, sendo madura, não ficará narcisicamente ferida por ver-se sem tempo para sua vida pessoal por dedicar-se à tarefa de cuidar do bebê.
- Assim como cria condições de separação gradual, oferecendo elementos de suporte e confiança a partir do processo maturacional da criança.
Da relação saudável que ocorre entre a mãe e o bebê, emergem os fundamentos da constituição da pessoa e do desenvolvimento emocional-afetivo da criança. Encontramos muitas vezes o termo holding nas obras de Winnicott. A função do holding em termos psicológicos é fornecer apoio egóico, em particular na fase de dependência absoluta antes do aparecimento da integração do ego. O holding inclui principalmente o segurar fisicamente o bebê, que é uma forma de amar; contudo, também se amplia a ponto de incluir a provisão ambiental total anterior ao conceito de viver com, isto é, da emergência do bebê como uma pessoa separada que se relaciona com outras pessoas separadas dele. E ainda mais importante: A mãe, ao tocar seu bebê, manipulá-lo, aconchegá-lo, falar com ele, acaba promovendo um arranjo entre soma e psique e, principalmente ao olhá-lo, ela se oferece como espelho no qual o bebê pode se ver. Na visão winnicottiana, já nos primórdios da existência, é fundamental para a constituição do self o modo como a mãe coloca o bebê no colo e o carrega; dá-se, assim, a continuidade entre o inato, a realidade psíquica e um esquema corporal pessoal. O holding é necessário desde a dependência absoluta até a autonomia do bebê, ou seja, quando os espaços psíquicos entre este e sua mãe já estão perfeitamente distintos.
A METÁFORA DO PATINHO FEIO
Metaforicamente falando, o Patinho Feio da versão mais recente (em DVD, 2005), teve uma Mãe Suficientemente Boa, segundo os conceitos acima citados e “tornou-se um cisne bem resolvido”. Já o Patinho Feio em sua versão clássica tornou-se uma estrutura neurótica, devido a rejeição da mãe que não possibilitou um desenvolvimento de auto-estima necessária por não ter tido oportunidade de experienciar holding. É esse Patinho Feio que necessita de um Psicoterapeuta Biodinâmico. Vejamos como se dá essa estruturação da neurose.
SÍNDROME DE PATINHO FEIO
Sou um Patinho Feio! Em primeiro lugar é necessário compreender que esta é sua identidade e a premissa básica de sua neurose. Como não foi atendido em suas necessidades de aceitação de amor, toda trama se desenvolve. Aprendeu que algo nele (ou tudo) precisa ser consertado com urgência, seu jeito é errado, é feio, não é suficiente, não agrada, não é adequado para… Comparado ao fulano ele é…, etc. Sofremos discriminações porque somos sempre diferentes, por sermos únicos, mas a diferença é considerada quase que uma provocação que precisa de adestramento. Vivenciamos então problemas de adaptação e aceitação diante dos julgamentos: mude, não seja assim, seja assado, se não mudar ninguém vai gostar de você… O desprezo e o desdém dos outros é tão forte que nós acabamos por acreditar que eles estão certos, acabamos aceitando o modo como os outros nos vêem e pensamos: cialis online Sou tão feio, sou um caso perdido, sinto desprezo por mim mesmo. Como ser diferente dos demais é a causa da rejeição, vamos aprendendo a olhar para fora: o que desejam de mim, como devo me comportar, o que expressar, o que posso e não posso, certo e errado… A partir daí nos tornamos adaptáveis a estilo de ser, estilo de vida, de relacionamentos, de preferências…. nos perdemos na sombra do nosso próprio olhar. Toda a energia da nossa vida torna-se concentrada nesta falta de autoestima – preciso mudar, ser igual, atender a expectativas, etc., para ser aceito e finalmente pertencer e ser amado. Perdemos o contato com nossa referência interna, com nosso verdadeiro self. SER ACEITO, RECONHECIDO E AMADO: 1º Uma Necessidade: enquanto bebês, crianças pequenas, somos extremamente dependentes e diante da ameaça de perder em algum grau a aceitação e amor incondicional da mãe é vivido como ameaça à vida. Realmente sentimos que poderemos não conseguir viver sem essa pessoa. É uma ameaça à sobrevivência. 2º Um Desejo: quando somos adultos e maduros, continuamos sempre buscando o amor, o reconhecimento e a aceitação de determinadas pessoas. Essa busca é de fundamental importância, no entanto, se não conseguimos, sentimo-nos frustrados, tristes, decepcionados, etc. Mas em momento algum, nos sentiremos desesperados, e com um sentimento insuportável de abandonado. 3º Uma Obrigação: aqui já é a manifestação da neurose, pois, o desejo transforma-se em obrigação: tenho que ser aceito, amado, atender expectativas, preciso de aprovação – SEM DISCRIMINAÇÃO (por todos e não mais por algumas pessoas significativas). Ou seja, o indivíduo regride totalmente e vive a experiência como o bebê em sua dependência absoluta. Por exemplo, o indivíduo sofre imensamente se percebe que um colega de trabalho não gosta muito dele ou que em determinado momento fez uma expressão de reprovação a uma atitude sua. Sofre como se, sua vida, carreira, sucesso, autoestima, dependesse do reconhecimento desse colega. Mas não, é apenas um colega com quem não tem nenhuma intimidade e nem pretende ter, a não ser, é claro, para receber esta aprovação, reconhecimento e amor. Assim, para esta pessoa que vive esta experiência, não como um desejo adulto (“que pena que o fulano não gosta de mim!”), mas como uma necessidade imperiosa, não há espaço para refletir, discriminar ou perceber-se, uma vez que se torna simbiótico com o outro e evitar a perda do amor é uma questão de não perder o ar que respira, o outro representa sua própria sobrevivência. Quando o desejo transforma-se em obrigação, o lema é: ser aceito, atender expectativas, precisar de aprovação, não importando de quem, perde-se o foco. A LUTA EXISTENCIAL DO PATINHO FEIO: Como ser um Pato Aceitável? Como devo me comportar, me relacionar, me posturar, minhas preferências, estilo de pato, comida de pato, humor de pato, sedução de pato, cocô de pato… CERTEZA QUE O NORTEARÁ: ele nunca dará certo, não será aceito, não tem capacidade, é um desastre da natureza… Pode também desenvolver outro lado da neurose: Pato Paranóico: o mundo me persegue, eu daria certo se, as pessoas tem inveja de mim, ninguém me dá uma chance… No conto clássico depois de muito sofrimento ele se vê refletido na água e descobre que é um Cisne! No conto, foi o início para um final feliz. Mas metaforicamente falando: Pensa que foi fácil para ele? NÃO! Quanto tempo investido em ser um pato! Quantas distorções corporais! Quanto empenho em imitar comportamentos! Quando o Patinho Feio descobriu que pertencia a família dos Cisnes, veio a famosa crise de identidade: quem sou, de onde vim, como vim parar aqui, como é ser um Cisne? Novamente sem referência interna – perdida claro, ao longo do tempo. Quando nos descobrimos iludidos ocorre uma turbulência interna – que é à força de vida – e a partir daí há dois caminhos:
- Rejeitar e negar a turbulência, usando-a apenas para fortalecer a tese narcísica de rejeição e perseguição, ficando preso na vitimação: porque não me ama, porque eu, porque não eu, porque não pensam-fazem-sentem-expressam igual a mim. E o tempo fica investido na preocupação para apontar o dedo para possíveis culpados. AQUI O INDIVÍDUO SE GRUDA NO PATO.
- Aceitar e usar a turbulência para mudar, ou seja, olhar para si e escolher que é chegada sua hora, momento de se descobrir. ACEITAR O DESCONHECIDO: APRENDIZADO DE SER O QUE SE É: UM CISNE
O patinho feio simboliza o preço de ser diferente. Infelizmente somos incentivados a ignorar, amenizar, esconder, nos envergonhar, operar essa diferença. E fazemos isso apertando e distorcendo nosso corpo e diminuindo a capacidade que o organismo tem de pulsação, que envolve contração e expansão. Sem esses dois fenômenos a emoção não existe. Aceitar a diferença não e fácil, principalmente aceitar que o outro é diferente e portanto, tem outro ritmo, preferências, desejos, expectativas, carências, medos, intensidades no mundo, formas de expressão, afetos proibidos, outros aceitos, crenças, maneiras que aprendeu a lidar com o toque físico, etc. Porém, quando conseguimos aceitar a nossa diferença para com o outro, podemos nos sentir livres para sermos nós mesmos. Investir internamente, ou seja, estar disposto no aprendizado de novas habilidades, nos liberta do nosso próprio estereótipo criado para o externo em função do esforço para ser aceito. Assim, poderemos voltar a ter o Desejo e não mais a Obrigação. A POSTURA DO PSICOTERAPEUTA BIODINÂMICO Para ter um final feliz… O Patinho Feio vai buscar Psicoterapia! Aqui coloco um conceito de suma importância: “O Terapeuta Suficientemente Bom”. Winnicott fala da importância da Mãe Suficientemente Boa, na ausência desta ou no caso de falhas e traumas ocorridos em fases muito precoces do desenvolvimento emocional do paciente, o terapeuta poderá tornar-se o ambiente facilitador, buscando reparar a dor da “criança ferida”, para que seu processo de maturação possa então se desenvolver. “Isso se dá a partir da reparação de traumas ocorridos em fase de dependência, em que a criança tem direito a existir e a estar segura e nutrida, em direção à independência, na qual ela tem direito de ser autônoma, a ter amor, e a dar e a receber, para alcançar o bem-estar independente ou a capacidade de estar só.” (Glória Cintra) ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO PSICOTERAPEUTA BIODINÂMICO:
- É necessário ser sensível e estar atento às necessidades de cada paciente, reconhecer, valorizar e legitimar suas qualidades positivas, assumindo um novo modelo de figura materna que possa ser internalizada no lugar daquela que falhou ou inexistiu em determinados aspectos.
- Faz sua própria psicoterapia, recebe sua massagem
- Possibilita um lugar emocional e físico seguro
- Permanece em contato consigo mesmo e naturalmente encontra seu ritmo de acordo com o ritmo do paciente
- É confiável, tranqüilo, constante e previsível – porém, não é perfeito e não busca ser.
- Cuida de suas relações tanto pessoais quanto profissionais no sentido de sentir-se nutrido para que possa prover seus paciente
- Não impõe suas necessidades narcísicas de ser reconhecido e mostrar eficiência.
- Não invade, respeita e faz amizade com a resistência
- Faz uso de técnicas de Massagem Biodinâmica, de acordo com a necessidade do paciente. Elas auxiliam no trabalho por trazerem sensações de ser ninado, contido, acolhido e vinculado.
“Em muitos casos trata-se mais do cuidado em relação ao manejo do setting, da adaptação do terapeuta às necessidades do paciente e da elasticidade da abstinência do que de intervenções interpretativas. A precisão do paciente aqui é de um terapeuta sensível, empático e verdadeiro, capaz de utilizar sua função de holding. E ele fará isso de vários modos. Adaptará o ambiente do consultório levando em conta as suscetibilidades do paciente; se comunicará com ele também por meio de linguagem não-verbal; compreenderá seu silêncio, discernindo o momento de se calar ou falar; utilizará o tom de voz ajustado aos ouvidos vulneráveis de seu paciente etc.” (KAHTUNI) E COMO FICARIA O PATINHO FEIO TERAPEUTIZADO? Podemos supor que a partir desse holding, sentindo-se verdadeiramente respeitado em sua singularidade ele poderia construir a base de sua segurança e autoestima. Seria ao mesmo tempo um pato feio e desajeitado e um cisne majestoso, pois ambos são verdadeiramente ele mesmo. Dependeria qual forma seria mais adequada para o momento, à questão é que ele não quis abandonar nenhuma metade dele mesmo. E talvez nos dissesse: “Não tem nada de errado comigo”! Às vezes um Pato barraqueiro, outras vezes um Cisne glamoroso. Eu sou assim, não perfeito, não agrado a todos (nem preciso), não sou amado por todos (nem quero). Esforço-me para melhorar em meus defeitos e não ser tão… Mas esse sou eu, em qualquer lugar, esse sou eu. Busco sempre o melhor de mim mesmo e o melhor para mim mesmo, “Essa é minha versão (hoje um PATOCISNE) sempre atualizada pela Psicoterapia” “Amadurecer inclui a possibilidade de regredir a cada vez que a vida exige descanso, em momentos de sobrecarga e tensão, ou para retomar pontos perdidos. Isto se deve ao fato de que nenhuma conquista fornece o título de garantia: tendo sido alcançada, pode ser perdida, outra vez alcançada e perdida de novo. Por isso, em uma pessoa de qualquer idade, pode-se encontrar todos os tipos de necessidades, das mais primitivas às mais tardias. As pessoas não tem exatamente a sua idade; em alguma medida, elas tem todas as idades, ou nenhuma” (Winnicott)