O mito do herói: Uma visão biodinâmica

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Deborah Cristina Godoy Fagundes
Email: deborahcgf@gmail.com
Especialista em Psicologia Biodinâmica pelo Instituto Biomater em parceria com o IBPB

EPÍGRAFE

“A imaginação humana está enraizada nas energias do corpo. E os órgãos do corpo são os determinantes dessas energias e dos conflitos entre os sistemas de impulso dos órgãos e a harmonização desses conflitos. Esses são os assuntos de que tratam os mitos”
(Campbell, 2001)
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo apresentar a jornada heroica da psicoterapia, um processo de análise ocorre com muitas batalhas internas, a Jornada do Heroi na mitologia, nos mostra como enfrentar as dificuldades e continuar na busca pelo Graal, Parsifal passou por tantas conturbações mas se manteve focado em se desenvolver e encontrar o caminho necessário para completar sua jornada.
A psicoterapia realiza o mesmo trajeto, a Psicologia Biodinâmica nos mostra através de técnicas como a massagem biodinâmica, a presença terapêutica, a maternagem, a amizade com a resistência de que é possível enfrentar as dificuldades encontradas na vida e vencer a jornada para o encontro com o Self.

INTRODUÇÃO

Este trabalho se refere a uma breve explanação, sobre mitologia, corpo e Psicologia Biodinâmica.
Meus conhecimentos iniciais em Psicologia, tem por base a Psicologia Analítica, esta também tem uma visão que une psiquismo e corpo, ao conhecer a Psicologia Biodinâmica, acreditei que as linhas teóricas poderiam se unir, por isso resolvi buscar a mitologia e mostrar uma leitura biodinâmica.
Nos capítulos que se seguem explico o que é mitologia, sua relação com a psicologia corporal, no capitulo sobre psicologia e corpo, conto sobre a jornada do herói, com a explanação sobre a lenda de Parsifal, que pode ser usado como base para o processo analítico, pois no processo analítico realizamos uma jornada heroica. Explico conceitos básicos da psicologia biodinâmica e por fim realizo um paralelo sobre a jornada heroica de Parsifal e a Psicologia Biodinâmica.
Com esse trabalho busco unir os conhecimentos que já possuía de mitologia e a psicologia Biodinâmica, explicando o processo da jornada Heroica no processo de Análise biodinâmica.

CAPITULO 1
MITOLOGIA
O que hoje conhecemos como Mitologia, já foi considerado religião. Essa religião grega se dissolveu, segundo Oliveira (2014), devido aos pensadores céticos que consideravam superstição e pelo aumento do Cristianismo na Europa. Os Deuses, Heróis, foram compondo lendas, viraram personagens que passou a habitar o inconsciente.
Para Campbell (1999) a formação do ser humano seria mais completa com conhecimentos da literatura grega, latina e da Bíblia. Como essas informações não fazem mais parte tão presente de nossa educação, muita coisa se perdeu, mas algumas histórias se mantiveram na mente das pessoas. Quando temos contato com essa história, percebemos sua importância em nossa vida.

“O mito o ajuda a colocar sua mente em contato com essa experiência de estar vivo. Ele lhe diz o que a experiência é.” (Campbell, 1999, p. 6)

“a mitologia lhes ensina o que está por traz da literatura e das artes, ensina sobre sua própria vida. É um assunto vasto, excitante, um alimento vital. A mitologia tem muito a ver com os estágios da vida, as cerimonias de iniciação, quando você passa da infância para as responsabilidades do adulto, da condição de solteiro para a de casado. Todos esses rituais são ritos mitológicos”. (Campbell, 1999, p.12)

Percebendo que os mitos retratam a vida, a existência humana, os utilizamos como referência para viver. É preciso um olhar atento para identificar o mito que mais representa seu momento de vida, assim podemos aprender e viver melhor.
Campbell cita Jung quando se refere aos arquétipos, que é um conceito da Psicologia Analítica, é a ideia elementar, tem base biológica, está contido no inconsciente coletivo, comum a todas as pessoas, pode se apresentar em diferentes contextos sociais, religiosos, entre outros, mas contém a mesma temática fundamental.
Em um encontro de Keleman e Campbell (2001) identifico a definição de mitologia que basearei esse trabalho.
“Mitologia é uma canção, a canção da imaginação inspirada pelas energias do corpo” (Campbell, p.11, 2001)
“Mitologia, para mim, é a poética do corpo cantando sua vontade celular (…) sei que a experiência é um evento corporificado, e o mito, como um processo organizativo, o modo que temos para ordenar a experiência somática” (Keleman, 2001, p. 11)

CAPITULO 2

MITO E CORPO

Você tem o mesmo corpo, com os mesmos órgãos e energias que o homem de Cro-Magnon tinha, trinta mil anos atrás. Viver uma vida humana na cidade de Nova Iorque ou nas cavernas é passar pelos mesmos estágios da infância à maturidade sexual, pela transformação da dependência da infância em responsabilidade, própria do homem ou da mulher, do casamento, depois a decadência física, a perda gradual das capacidades e a morte. Você tem o mesmo corpo, as mesmas experiências corporais, e com isso reage as mesmas imagens. (Campbell, 2001, p. 39)

Keleman é o criador da Psicologia Formativa, que considera que o corpo está em constante formação, em um processo vivo, evolutivo, em transformação para a organização do si mesmo.
Segundo Cohn (2014) Para a Psicologia Formativa o ser humano é emocional, cognitivo, linguístico e cultural, toda experiência é corporificada. A técnica da psicologia formativa se baseia em uma anatomia pulsante, são movimentos contínuos de expansão e contração, que ocorrem em todas as camadas do corpo, as posturas do corpo são anatômicos emocionais, ou seja, as alterações na anatomia do corpo indicam também mudanças no estado emocional.
A partir dessa ideia Keleman utiliza a prática do corpar, a intensificação de postura para contatar o emocional. Considerando que o mito descreve experiências do corpo, ele também auxilia para o corpo organizar e incorporar a experiência.
Keleman (2001) nos diz que quando conhecemos os mitos, entramos em contato com o mais profundo self somático. A partir disso conseguimos absorver novas experiências e assim adquirir novas respostas. Para ele, é a experiência do corpo que nos fornece a experiência de estar vivo.
Nós aprendemos com o mito, eles têm o poder de afetar os papeis que assumimos, através do mito nos tornamos íntimos das experiências que vivenciamos para atingir a nossa corporificação, ou seja, “o mito trata da jornada do corpo, recriando a sim mesmo continuamente, de modo particular, para formar uma estrutura pessoal individual chamada self.

CAPITULO 3
A JORNADA DO HERÓI
Cada um de nós é um herói.
Isso é um dote.
Temos um chamamento para a aventura
Recusamos
Segue-se uma crise.
Não podemos voltar atrás – e atendemos ao chamado.
Juntamos auxiliares, professores, guias.
E cruzamos o limiar do desconhecido.
Perdemos a nossa identidade e afundamos num abismo, no nadir, na barriga da baleia.
E emergimos
Começamos a viajar de volta para casa, para aquilo que conhecemos – cruzando de volta a fronteira.
Nós voltamos.
Transformados.

Campbell (2001, p. 19)

O mito do herói se refere a corporificação, Keleman indica que o mito do herói nos mostra como a corporificação ocorre e os obstáculos que precisamos ultrapassar para o desenvolvimento saudável.
Uma boa representação é o mito do Herói Parsifal. Eis um resumo de Parsifal, baseado em Campbell
O rei Enfermo herdou o título de Senhor do Graal. Um dia, um cavaleiro pagão cruza seu caminho, sua lança o fere, o rei volta para o castelo com a ponta da lança na ferida, quando a retiram tem o escrito “Graal”, somente uma pessoa em contato com a natureza de um coração nobre irá salvar o rei e o reino. Parsifal que é o candidato a isso.
O pai de Parsifal é um cavaleiro cristão que serviu ao califa de Bagdá, lá morreu, enquanto sua mãe esperava pelo filho. Parsifal tem o caráter do pai.
Aos 15 aos, encontra cavaleiros na floresta e fica maravilhado, acha que são anjos. O voltar para casa diz para a mãe, que será cavaleiro, a mãe não aceita e faz coisas para atrapalhar, mas ele vai para a corte do Rei Arthur e mata o rei que veio desafiar o rei Arthur. Apodera-se de sua armadura e encontra Gurnemanz que já teve seus filhos mortos por torneios, ele percebe o potencial de Parsifal e lhe ensina as artes, destrezas de combate. E oferece sua filha em casamento à Parsifal, mas esse que possui coração nobre, acredita que tem de conquistar uma esposa.
Em uma nova jornada Parsifal encontra uma rainha, chamada Konduiramours, aquela que conduz ao amor. A rainha o acorda chorando em uma noite e conta que existe um cavaleiro na província que deseja o castelo, e a ela como esposa e quer somar os reinos, mas ela não deseja esse casamento. Parsifal diz que o matará pela manhã, o cavaleiro se rende e tem a clemencia de Parsifal, que o envia para a corte do rei Arthur para dizer que foi derrotado por ele. Após essa vitória, a rainha prende o cabelo para cima, como uma mulher casada.
A consumação do casamento demora algumas noites, eles têm um filho, e já outro a caminho, quando resolve buscar por sua mãe.
Ele sai em nova aventura e encontra o Rei do Graal, que o orienta a chegar ao castelo, ato difícil para muitos que não o encontram, ao chegar já o olham como o cavaleiro que romperá o cerco.
O graal é trazido como um vaso de pedra, é o caminho entre o par de opostos, não existe homem bom e não existe homem mau. A bondade e a maldade são relativas, não são absolutas.
Começa uma procissão, o rei não tem posição devido a sua dor, Parsifal sente compaixão, é o momento em que se abre para o outro, mas ele não se dirige ao rei, se lembra que um cavaleiro não faz perguntas e se preocupa com sua imagem social e não age com compaixão. O rei, ao perceber que nada ocorrerá, o presenteia com uma espada, esta irá falhar em um momento crítico.
Parsifal ama Konduiramours, Gawain é o cavalheiro das damas, rompe com o encantamento de um castelo chamado Chateau merveille, era um castelo em que 500 damas e 50 cavalheiros eram mantidos separados uns dos outros, consegue libertá-los. Gawain irá se casar, Parsifal é recebido nessa festa de amor e só pensa na esposa e assim decide voltar por lealdade a esposa.
Durante essa cavalgada, surge um cavaleiro pagão, caem do cavalo e a espada de Parsifal se quebra no elmo do cavaleiro e esse, ao ver Parsifal sem arma joga sua arma e diz que não luta com homem desarmado.
Os dois sentam e tiram os elmos, é um cavaleiro negro e outro branco, é o irmão de Parsifal, se reconhecem. Eles voltam para a festa, quando um mensageiro o chama de volta ao castelo do Graal, por sua lealdade, pelo nobre coração de cavaleiro que atirou longe sua espada, os dois, um cavaleiro pagão e um cavaleiro cristão voltam ao Castelo do Graal.
Voltando ao castelo o rei está curado, o cavaleiro pagão não consegue enxergar o Graal, então se percebe que precisa ocorrer a união dos opostos, compaixão, fé, assim Feirfiz foi batizado e aparece uma inscrição no Graal.

“O rei está curado. Parsifal torna-se o rei do Graal, unido com Konduiramours e a família e todos viveram felizes para sempre”

Keleman (2001) percebe que Parsifal percorre um caminho de corporificação: primeiro é mobilizado pela imagem da cavalaria, o encantamento de ser algo;
segundo começa a usar seu corpo como um cavaleiro, com treinamentos e se preparando para enfrentar seus desafios;
terceiro os fatos mostram que Parsifal precisa mudar, é solicitado a deixar o castelo do Graal, é preciso buscar a sua forma de ser o cavaleiro, o guerreiro, sem se preocupar com o pensamento dos outros;
quarto quando se depara com a compaixão, ele modifica a forma de agir, conhecendo a empatia;
Quinto ele já envolto de uma nova forma corporal volta para o castelo do graal e se reconcilia com o rei enfermo.
A jornada do Herói nos mostra a evolução, é um processo, segundo Keleman (2001), de uma espiral, é preciso confiar na experiência corpórea, sem se prender as regras sociais para alcançar a compaixão e a empatia e assim estar de acordo com o seu self
Campbell ao explicar os mitos nos mostra que eles se reproduzem ao mesmo tempo em todos os lugares, somente se muda a forma de apresentar, todos passam por uma grande jornada em suas vidas,

CAPITULO 4
PSICOLOGIA BIODINÂMICA
Gerda Boyesen foi a criador da Psicologia Biodinâmica, incluiu conceitos e uma nova forma de trabalhar com a Psicologia Corporal, nos mostrando que a energia do corpo precisa ter uma circulação adequada.
“O conhecimento de si passa pelo alargamento, pelo afinamento da consciência do corpo, a fim de que a consciência do corpo se torne o corpo da consciência” (BOYESEN, 1986, p.13)
A massagem biodinâmica auxilia para que essa consciência se desenvolva, a união dos conhecimentos de psicologia e fisioterapia de Gerda Boyesen possibilitou que a técnica da massagem auxiliasse na desobstrução da energia no corpo, ela facilita que a emoção apareça e seja liberada em descargas vegetativas.
Segundo Boyesen (1986, p.35)

o corpo encapsula as emoções deixando os músculos tão rígidos que a contração subsiste de maneira crônica. A energia se torna estática (…) assim que diminui o recalque e que tombam as defesas, a neurose ou a psicose aparecem…
A massagem trabalha primeiro na resistência corporal e depois na resistência psicológica. O corpo, com a capsulação e regidificação, apresenta músculos que mudam de consistência, apresentando maior ou menor rigidez e a partir dessa mudança ocorrem mudanças de postura. Com o trabalho de massagista Gerda Boyesen identificou que as mudanças de postura eram importantes na dissolução da neurose, por isso se buscava com a massagem uma postura harmoniosa, assim havia liberação do diafragma e a emoção fluía.
Para Boyesen (1986) a neurose pode ser solucionada através de descarga vegetativa, é um mecanismo biológico que completa o ciclo emocional, assim trabalhamos com a massagem para dissolver a couraça e encontrar o mecanismo que elimina como uma digestão os resíduos emocionais, assim os sintomas neuróticos são descarregados em descargas vegetativas.
A psicoperistalse é a capacidade de o intestino dissolver a tensão emocional através de descarga metabólica. O som da psicoperistalse é um guia para o tratamento, assim com auxílio do estetoscópio detectamos o local da tensão e buscamos aliviar, dissolver o som e facilitar o aparecimento do som de riacho que nos mostra que a energia está em fluxo continuo.
A autorregulação ocorre quando ocorre diariamente a abertura do psicoperistaltismo, permitindo assim que as tensões diárias sejam dissolvidas.
A busca pela personalidade primária é constante, é o self verdadeiro. O processo terapêutico precisa encontrar suas características para fortalecer a pessoa e encarar o conteúdo neurótico, ou seja, encarar a personalidade secundaria.
Quando a pessoa tem prazer de estar consigo mesmo, a energia vital está circulando e assim a personalidade primaria tem seu espaço.
A personalidade secundaria surge na “… infância em diante, o mundo pressiona demasiadamente e não nos aceita como realmente somos” (SOUTHWELL, 1986, p.7)
A energia bloqueada, segundo Southwell (1986), nos mostra que distorcemos o funcionamento corporal, quanto mais encouraçados ficamos menos se digere as pressões da vida.
Boyesen (1986) nos indica que a bioenergia esta encapsulada na personalidade primaria, na personalidade secundaria só contem energia fisiológica.
A resistência é um mecanismo de defesa do ego, para se proteger dos conteúdos inconscientes até que a pessoa esteja pronta para entrar em contato com isso.
A Psicologia Biodinâmica busca derreter a resistência sem lutar com ela, para Samson (1994) é importante a empatia, tolerância e respeito para identificar a pulsação que leva a auto regulação. É um processo de cuidado para alcançar a personalidade primaria.
A maternagem ocorre, pois há uma atenção e um momento de estar com a pessoa que nos remete aos cuidados primários, Boyesen (1986) aponta como característica do seu método terapêutico, o método da parteira, onde o terapeuta é passivo e possibilita ao paciente um processo dinâmico curativo, é um oferecimento de aceitação e amor total, a terapia oferece empatia, tolerância e compreensão do terapeuta.
A presença terapêutica, segundo Rego (2014) é um grande diferencial da biodinâmica, são duas pessoas em contato e sintonia, proporcionando ao paciente o estar junto, com intenção de qualidade.
A psicologia Biodinâmica toma cuidado em reconhecer as resistências, oferece suporte de forma tranquila para que essas resistências se dissolvam e assim facilitar o desenvolvimento da pessoa, é necessário que o foco seja no paciente, para satisfazer sua necessidade.

CAPITULO 5

A Jornada do Herói na visão biodinâmica
Quando nos referimos a Jornada do Herói, nos referimos a um processo de autoconhecimento, uma busca por algum objetivo, o Herói sempre busca um objetivo maior e para isso atravessa obstáculos.
Parsifal, como descrito anteriormente, realizou uma jornada de autoconhecimento, amadurecimento, para se tornar o cavaleiro que sonhou quando criança, esse processo em muito se assemelha ao processo terapêutico, que nossos pacientes vencem a cada dia durante seus processos analíticos.
No mito de Parsifal, identificamos que o processo se inicia ainda na adolescência, onde ele percebe que precisará de treinamento, para poder encontrar seu caminho, o corpo que possui nunca recebeu tratamento, assim ele encontra um mestre para auxiliá-lo. Ou seja, quando o indivíduo busca o analista, está buscando a parteira, o mestre, a pessoa que irá auxiliá-lo no processo de amadurecimento.
Ao conhecer os cavaleiros da Távola Redonda, Parsifal decide que será um cavaleiro, aqui começa a construção de sua nova identidade, ele terá que interiorizar o novo corpo, corpo de cavaleiro que irá construir. A pessoa começa a se identificar com a imagem do que ela quer se tornar, e para isso precisa que o corpo real acompanhe as mudanças mentais, a Psicologia Biodinâmica nos fornece importante ferramenta para que a imagem idealizada seja compatível com a imagem real, a massagem biodinâmica pode auxiliar, pois a pessoa tem um contato maior com o corpo físico e assim percebe limitações e necessidades desse corpo, e assim pode desenvolver-se mais.
Somente quando o corpo físico de Parsifal está pronto que ele consegue enfrentar uma batalha, assim no processo terapêutico biodinâmico podemos contar com a intenção, ou seja, a partir da intenção colocada no toque, no processo de análise, favorecemos que a pessoa se modifique, se a intenção for de encontro com a imagem interna, o crescimento ocorre naturalmente. Parsifal desejou ser cavaleiro, preparou seu corpo com treinamentos e encontrou-se como cavaleiro, vencendo batalhas e buscando o Graal.
O indivíduo em processo de análise, muitas vezes se depara com uma imagem interior diferente da imagem que a sociedade determina para ele, e assim a frustração e a decorrência de distúrbios emocionais ocorrem.
As experiências sociais, nos moldam, é nesse momento que a personalidade primaria fica encapsulada, a pessoa cria um corpo baseado no que a sociedade deseja e assim as couraças se criam impedindo a livre expressão, a Analise Biodinâmica, fazendo amizade com a resistência, busca a dissolução das couraças para que a personalidade primaria seja encontrada novamente.
Durante essa jornada Parsifal passa por etapas do desenvolvimento, o amadurecimento traz a busca pelo amor, seu treinador lhe oferece a filha em casamento, o processo de amar é longo e tem inicio com a vivencia do bebê com a mãe, é preciso realizar todo um desenvolvimento afetivo para que o amar ocorra, Parsifal busca esse desenvolvimento afetivo, ele não acredita que o amor pode lhe ser dado, deve ser conquistado, e por isso continua sua busca, na Analise Biodinâmica, ocorre a maternagem, que possibilita ao paciente reviver todo esse desenvolvimento afetivo, a fim de não entrar em ciclos viciosos, onde a pessoa não se se sinta apto a amar ou ser amado, é possível ressignificar a vivencia materna e buscar esse desenvolvimento. Campbel (2001) nos mostra que as pessoas precisam de algo pelo que viver, sacrifica seus ganhos sem hesitar, quando não há uma conquista, as coisas são oferecidas sem merecimento, sem sacrifício, o indivíduo tende a não valorizar e falta o processo de conquista, no processo terapêutico, percebe-se que a energia vital tem uma queda quando não há pelo que lutar, o corpo pode apresentar hipotonia muscular, precisando se resgatar a vontade, o desejo de buscar algo.
Parsifal em um momento de sua jornada percebe que já tem o que buscava, é um cavaleiro, tem sua rainha, mas ainda se sente vazio, sente necessidade de buscar sua história, e vai a busca de sua mãe novamente. Mesmo quando encontra o amor, é preciso ressignificar a figura materna, a maternagem é o ponto que mais oferece o equilíbrio no processo terapêutico, para a pessoa se reencontrar. Nesse caminho, ele se depara com desafios de fé, é preciso encarar a satisfação que tem com sua vida, perceber se como indivíduo e identificar suas necessidades, com a jornada em andamento, o processo de maternagem possibilita ao terapeuta estar presente, na terapia é nesse momento que somente o estar ali favorece o desenvolvimento.
O grande marco é o encontro com o irmão, para Parsifal, neste momento ocorre luta, entraves, temores, mas precisam se encarar para encontrar o desenvolvimento, no processo terapêutico isso se refere a intenção terapêutica e a amizade com a resistência, é o momento em que a pessoa encara os pontos positivos e negativos de si, é preciso sentir o amparo e ter seus limites respeitados. Os irmãos são opostos, mas tem a busca por um ideal de vida, é o positivo e o negativo que se complementam, é o momento em que ele pode encontrar o equilíbrio que faltava, a final não há pessoas 100% positivas ou negativas, é preciso equilibrar o bom e o mal, os dois juntos mostram essa complementação, no contato com a compaixão e a empatia. Sentimentos que são vividos com o terapeuta em processo de Analise Biodinâmica.
Assim Parsifal consegue ir ao encontro do Graal e se torna o rei do Graal, ele completa a Jornada, demonstrando que é um cavaleiro em todas as suas qualidades, um guerreiro, leal, com coração nobre que se mostra digno de encontrar o Graal, o termino do processo terapêutico depende de se encontrar sua lealdade para consigo mesmo, a pessoa encarando sua personalidade primária, buscando seus ideais, com empatia e compaixão pelo outro e por si.
Conclusão
Após esse passeio pela mitologia, conhecendo a Jornada Heroica de Parsifal, percebemos a analogia com o processo Analítico Biodinâmico e a necessidade que as pessoas têm de realizar essa jornada pela busca de sua identidade primária, rompendo suas couraças, encontrando empatia, compaixão pelo outro e podendo ir de encontro com o self.
É interessante notar que a forma como a pessoa se expressa, modifica seu corpo e é preciso um resgate, no toque, na distribuição de energia, o que é favorecido através da massagem, do estar com o paciente, no pouco é muito, na amizade com a resistência, na aceitação incondicional e assim possibilitar esse encontro com sua personalidade primária.
É uma longa jornada, que todos realizam durante sua vida e que conta com apoio de diversas pessoas, que estão presentes em nossas vidas.
“O mito o ajuda a colocar sua mente em contato com essa experiência de estar vivo. Ele lhe diz o que a experiência é.” (Campbell, 1999, p. 6)

A mitologia nos mostra o que é a experiência, assim ler o mito com o olhar da Psicologia Biodinâmica me favorece novos conteúdos, uma analise profunda da busca pelo eu, é um momento de grande descoberta e de crescimento, na jornada que vivencio como pessoa e como profissional, espero auxiliar meus pacientes com essa busca do Graal e também encontrar e tomar posse do meu Graal, no meu processo pessoal e profissional.

BIBLIOGRAFIA
BOYESEN, G. Entre Psiquê e Soma. São Paulo, Summus, 1986.
COHN, Leila. A psicologia formativa: um caminho evolutivo. In cadernos de Psicologia Formativa. Vol I Rio de Janeiro, 2007
CAMPBELL, Joseph. O poder do Mito. Palas Athena, São Paulo, 1990.
KELEMAN, Stanley. Mito e corpo: uma conversa com Joseph Campbell. São Paulo, Summus, 2001.
OLIVEIRA, Sadat. Introdução a mitologia grega: os deuses olímpicos. Vol II, 2014 [versão Kindle]
REGO, R. A. Deixa vir. Elementos Clínicos de Psicologia Biodinâmica. Axis Mundi, São Paulo, 2014.
REGO, R. A.; PORTO, D. P.; AMABIS, D. C.; FORLANI, M.; MARTINS, S. F. O toque na Psicoterapia: Massagem biodinâmica. KBR, Petrópolis, 2014.
SAMSON, A. A Couraça Secundária. Revista Reichiana 3, São Paulo, 1994.
SOUTHWELL, C. Psicologia Biodinâmica: Teoria e Método de Gerda Boyesen. 1986.

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