Flávia Ferreira Júlio, instrutora de meditação, mindfulness e analista Biodinâmica.
flafjulio@gmail.com
1. INTRODUÇÃO
1.1 Meditação:
Origem e significado A meditação foi trazida à literatura como algo que dizia respeito a tradições religiosas e filosóficas orientais (Ireland, 2012). É conhecida pela humanidade há muito tempo (Yardi, 2001), mas foi recentemente que a ciência ocidental considerou a meditação como um tema meritório para pesquisa. Apesar de praticantes se beneficiarem da prática (Kabat-Zinn,1991), a meditação continua a ser um assunto ainda em estudo para melhor compreensão pelos cientistas ocidentais (Yardi, 2001). Pode-se definir meditação como uma prática que engloba um conjunto de técnicas que buscam treinar a focalização da atenção (Shapiro, 1981). Por essa razão, pode ser chamada de processo auto regulatório da atenção, em que através da prática é desenvolvido o controle dos processos atencionais (Davidson & Goleman, 1977; Goleman & Schwartz, 1976). Além disso, a meditação pode ser caracterizada como uma prática que atinge objetivos semelhantes a algumas técnicas da psicoterapia cognitiva, embora por meios distintos. Ambas levam à diminuição do pensamento repetitivo e à reorientação cognitiva, desenvolvendo habilidades para lidar com os pensamentos automáticos. A diferença, contudo, é que, na prática da meditação, os conteúdos que emergem à consciência não devem ser confrontados ou elaborados intencionalmente, apenas observados, de forma que a prática se transforme em um aprendizado de como não deixar influenciar-se pelos mesmos e compreendê-los como fluxos mentais (Bishop et al., 2004; Miller, Fletcher, & Kabat-Zinn, 1995; Vandenbergue & Sousa, 2006). Também designada como técnica mentecorpo (Hankey, 2006; KabatZinn, 2003), técnica comportamental (Cardoso, 2005; Vandenbergue & Sousa, 2006) e resposta de relaxamento (Campagne, 2004; Galvin, Benson, Deckro, Fricchione, & Dusek, 2006), a meditação é descrita como um treinamento mental, capaz de produzir maior integração entre mente, corpo e mundo externo (Brefczynski-Lewis, Lutz, Schaeffer, Levinson, & Davidson, 2007; Slagter et al., 2007). Recentemente, cientistas ocidentais fizeram tentativas para uma definição do que seria então, de fato, a meditação. Yardi (2001) escreve: “O estado de consciência tradicional divide-se em três: estado de alerta; estado de sono e estado de sonho. A meditação tem sido considerada como o quarto estado de consciência”. (p.8). Takahashi et al, (2004) dizem: “Meditação é a realização de um estado repousante físico e mental praticado como uma proposta de auto regulação e gerenciamento das emoções”. Pode ser caracterizada como uma “intencional auto regulação da atenção de momento para momento” (Kabat-Zinn 1982, Reavley & Pallant, 2009). (p.282). Para uso na ciência relacionada à saúde, Cardoso, Souza, Camano e Leite (2004) apresentam a mais abrangente e prática definição. Para ser considerado meditação, a prática deve seguir alguns procedimentos e apresentar características como: 1) Usar uma técnica específica e clara; 2) Trazer relaxamento muscular em algum momento do processo; 3) Promover o Relaxamento da lógica, o que envolve: (a) “ não pretender analisar” os efeitos da meditação, (b) “ não pretender julgar” os fatos como bom, ruim, certo, errado, (c) “ pretender não criar expectativa” em relação ao processo do exercício meditativo; 4) Ser um processo auto induzido; 5) Utilizar um artifício de auto focalização (âncora). Consta que, em 2010, existiam mais de 10 milhões de praticantes de meditação nos EUA e outras centenas de milhões pelo resto do Mundo (Pruitt & McCollum, 2010), sendo esta prática uma atividade de relevância que alicia a população por incidir sobre processos relacionados com o desenvolvimento pessoal (Shapiro et al. 2003 citado por Pruitt & McCollum, 2010). Em 2012, nos Estados Unidos da América, já eram mais de 18 milhões de praticantes de meditação (Clarke TC, Black LI, Stussman BJ et al, 2012). Além disso, verificou-se que a meditação é também um dos métodos mais utilizados e investigados no âmbito das ferramentas em psicologia nos últimos 20 anos, em que cresceu o número de intervenções na clínica com este método (Pruitt & McCollum, 2010). Para fins de saúde, a prática da meditação faz parte da chamada Medicina Alternativa Complementar (CAM – Complementary Alternative Medicine) ou Medicina Integrativa (Integrative Medicine). É a medicina usada juntamente com a 13 medicina convencional, praticada nos Estados Unidos pelos Doutores em medicina (M.D). (National Center for Complementary and Integrative Medicine (NCCIM) – Meditation for health purpose, 2006).
1.2 Benefícios da prática
Quanto aos benefícios da prática meditativa, a nível geral, a literatura científica vem apresentando resultados positivos em saúde psicológica e física dos praticantes (Ospina, et al., 2007; Sahdra, et al., 2011; Hussain & Bhushan, 2010; Ireland, 2012; Reavley & Pallant, 2009). Estudos sugerem cada vez mais que alguns benefícios de meditação estão relacionados com a prática regular e continuada do praticante no comprometimento da prática. (Brefczynski-Lewis et al, 2007; Pace et al, 2009; Baron Short et al, 2010; Manna et al, 2010). Apesar das evidências dos benefícios da prática meditativa, alguns autores questionam sua eficácia terapêutica. (Young, DeLorenzi, & Cunningham, 2011; Hussain & Bhushan, 2010). O National Center for Complementary and Integrative Medicine (NCIAM), apresentou no artigo Meditation for health purpose 2005, que nos dias atuais, muitas pessoas usam meditação fora da sua tradicional definição religiosa ou cultural, mas sim para efeitos de saúde e bem-estar. Na meditação, uma pessoa aprende a concentrar sua atenção e suspender o fluxo de pensamentos que normalmente ocupam a mente. Com a prática, o meditador busca um estado maior de relaxamento físico, tranquilidade mental e equilíbrio psicológico. Praticar meditação pode mudar a forma como a pessoa se relaciona com o fluxo de emoções e pensamentos na mente. Estudos comportamentais e neurofisiológicos mostraram que meditação melhora o desempenho atencional (Lutz et al, 2009; Tang et al, 2007). Em apenas cinco dias de treinamento mental (20 min de meditação por dia), o grupo já apresentou melhora na qualidade da atenção (Tang et al, 2007). Segundo Lutz et al (2008), a meditação pode ser conceituada como uma família de regimes complexos de regulação emocional e de atenção desenvolvido para diversos fins, incluindo o cultivo de bem-estar e equilíbrio emocional. Entre as diversas práticas de meditação, existem duas mais comumente estudadas. A meditação de 14 atenção focada (FA), que implica a voluntária focalização da atenção em um objeto escolhido, e a meditação que envolve a monitorização do conteúdo da experiência de momento a momento (OM). As potenciais funções reguladoras destas práticas envolvem os processos de atenção e emoção e podem causar impactos sobre o cérebro e comportamentos no longo prazo. Durante o exercício meditativo, não se sabe exatamente o que acontece no cérebro. Assim, Lazar et al (2000) usaram a ressonância magnética funcional para identificar as regiões do cérebro que são ativos durante uma forma simples de meditação e resposta de relaxamento. Foi observado um aumento significativo nos sinais de regiões como dorsolateral pré-frontal e parietal, hipocampo, lobo temporal, cingulado anterior, striatum, e giros pré e pós-central durante a meditação. Os resultados indicam que a prática da meditação ativa as estruturas neurais envolvidas na atenção e o controle do sistema nervoso autônomo (Deshmukh 2006). Deshmukh (2004) ressalta que durante a meditação, quando os conflitos situacionais, desejos e necessidades são resolvidos, isto é, quando é possível não se envolver com os pensamentos trazidos pela mente, pode-se alcançar um estado natural da mente, tranquilo e plena consciência, sem nenhum senso de ego ou autoria. Deshmukh (2006) explica que tal auto- absorção, estado não-dual espontâneo de ser é conhecido como “Turiya” 1 . Seria a terra primordial de toda a nossa experiência consciente, é não-verbal, inefável e indefinível, mas verificável intuitivamente pela experiência pessoal.
1.3 Meditação, saúde física e saúde mental
Sintomas de estresse, em particular, têm apresentado resultados bastante significativos após o uso da meditação com populações clínicas e não clínicas, como apontam as medidas de sofrimento (distress) psicológico e marcadores biológicos (Cruess, Antoni, Kumar, & Schneiderman, 2000; Goleman & Schwartz, 1976; Oman, 1 DESHMUKH 2006, Turiya – O quarto estado de consciência. Um passo para a autoconsciência. 15 Hedberg, & Thoresen, 2006; Ostafin et al., 2006). Além disso, segundo uma metaanálise em que foi observado um alto e consistente tamanho de efeito da meditação sobre diversas situações clínicas, é através da redução do estresse que a meditação pode ser benéfica para diversas condições de saúde (Grossman, Niemannb, Schmidtc, & Walachc, 2004). Estudos de acompanhamento descobriram que a meditação auxilia no gerenciamento e na redução do estresse, e que esse efeito se prolonga no tempo (Miller et al., 1995; Oman et al., 2006; Ostafin et al., 2006). Embora Ostafin et al. (2006) não tenham encontrado uma correlação positiva significativa entre a frequência da prática e a diminuição do sofrimento psicológico, Oman et al. (2006) constataram que a adesão à prática de meditação ao longo de quatro meses teve efeito direto na redução do estresse após esse tempo. Outras pesquisas indicaram que a meditação pode proporcionar melhor adaptação ao estresse. Através de um estímulo aversivo, foi verificado que o grupo com maior experiência se recuperava mais rápido da excitação autonômica, ou seja, os meditadores experientes, após o término do estressor, tinham a frequência cardíaca e a resposta de condutividade da pele diminuída mais rapidamente, o que indicava uma capacidade de habituação mais rápida ao estresse (Goleman & Schwartz, 1976). Nessa mesma direção, um estudo verificou que, mesmo quando praticantes iniciantes e avançados relatavam menor aceitação em condições de estresse, o grupo menos experiente apresentava significativamente menos aceitação (Easterlin & Cardeña, 1998). A prática meditativa também está associada à diminuição da ansiedade (Brown & Ryan, 2003; Davidson et al., 2003; Galvin et al., 2006; Schwartz, Davidson, & Goleman,1978; Grossman et al., 2004), sendo que os efeitos de uma intervenção de oito semanas de meditação sobre a redução dos sintomas do transtorno de ansiedade generalizada e do transtorno de pânico, com e sem agorafobia foram mantidos por três anos (Miller et al., 1995). Além disso, pessoas com o transtorno do comer compulsivo que passaram por uma intervenção que utilizava meditação tiveram a frequência e a intensidade de seus episódios diminuídas em função da redução da ansiedade e da depressão (Baer, Fischer & Huss, 2005; Kristeller & Hallett, 1999). A meditação também é capaz de estimular aspectos saudáveis, estando muito associada à saúde mental (Goleman, 1988; Hankey, 2006). Uma pesquisa verificou que a prática 16 meditativa associou-se à ativação do córtex pré-frontal esquerdo (Davidson et al., 2003), que está relacionado a afetos positivos e a maior resiliência (Davidson, 2004). Além disso, ondas teta produzidas pela meditação também mostraram correlação positiva com o relato da experiência emocional positiva durante a prática de meditadores experientes, em contraste com iniciantes (Aftanas & Golocheikine, 2001). Segundo (Dahl, C. J., Lutz, A., & Davidson, R. J. 2015), a meditação é uma prática que envolve o corpo e a mente, e relata que existem diversos tipos de meditação, mas na perspectiva científica todas elas buscam desenvolver a habilidade de exercitar a atenção. Slagter et al (2007), concordam que a meditação é um treinamento mental de atenção, mas que envolve a seleção de informações meta relevante a partir da matriz de insumos que bombardeiam os nossos sistemas sensoriais. A prática de meditação de longo prazo foi associada ao aumento da espessura cortical em indivíduos que praticam meditação, que envolve atenção focada na experiência interna do indivíduo. Para Deshmukh (1982), o modo de atenção de presença é a chave para a excelência mental. Ela exige total atenção à realidade atual livre do passado; memórias, dos julgamentos; preconceitos, preferências e do futuro; projeções. Deshmukh (1990), mostra que a atenção pode ser focada em um determinado lugar, tempo e modalidade como a visão, audição, pensamentos, etc. Com foco no espaço, melhora o processamento dessa região de interesse, ao passo que, concentrando-se no tempo melhora o processamento de eventos no momento presente. É a base de presença ou mente presente, que também é conhecida como atenção plena ou mindfulness. No Brasil, o Ministério da Saúde, através da Portaria nº 971, com base em um documento da Organização Mundial da Saúde, aprova a utilização de práticas complementares da Medicina chinesa, como acupuntura, homeopatia e meditação (Ministério da Saúde, 2006). Todavia, ainda não há publicações científicas que retratem a utilização da meditação no sistema de saúde, embora certamente seja utilizada na prática clínica pública e privada. Nas universidades brasileiras, também há escassez de investigações acerca do assunto. Tem-se notícia de dois grupos de pesquisa que vêm trabalhando na área, um bastante voltado para a pesquisa, no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e outro mais direcionado para a prática 17 e a inserção da técnica no âmbito da saúde mental, na Clínica-Escola de Psicologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), onde é oferecido um serviço terapêutico gratuito à população. 18
1.4. Objetivos Primário:
Este estudo apresenta a revisão de algumas evidências acerca dos benefícios da meditação e do seu papel na aplicação clínica. Secundário: Através de estudos bibliográficos, demostrar que se trata de abordagem compatível com a visão que orienta a psicologia biodinâmica, que visa à reintegração dos fluxos corporais e mentais. 19 2.
REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Psicoterapia Corporal
Rego, R; Albertini, P. (2013), relatam que a psicoterapia corporal tem como definição um conjunto de práticas e atividades que trabalham o corpo de forma bastante completa. Dentre essas práticas, inclui-se a observação do corpo, os trabalhos com a respiração, alguns exercícios expressivos, as massagens e o toque, além de outros recursos. Foi de grande importância encontrar um termo específico para referir-se a esse modelo de psicoterapia quando consideramos que a maior parte das escolas de psicoterapia se baseia fundamentalmente no intercâmbio verbal, na fala. Vale frisar que na psicoterapia “corporal”, a fala é também um recurso utilizado. Na verdade, poderíamos dizer que os recursos se ampliaram nesse modelo proposto. Na psicoterapia corporal, além da expressão verbal, as pessoas são convidadas a liberar a expressividade do próprio corpo. É proposto o livre movimento, seja pequeno ou grande como uma forma de manifestação. A expressão pode vir também através de sons, o que compõem essa expressão de alguma forma reprimida. Quando há uma resposta a essas propostas, amplia-se as formas de comunicação e da relação do mundo interno com o externo. Dentre as diversas escolas de psicoterapia que utilizam intervenções corporais em seu modelo, o autor de maior destaque foi o austríaco Wilheim Reich (1897 – 1957). Rego, R; Albertini, P. (2013) relatam o encanto de Reich pela psicanálise enquanto cursava medicina em Viena. Durante os anos de 1920 e 1934, Reich atuou fortemente como psicanalista, escreveu artigos e livros sobre técnica terapêutica. Foi um período marcante em sua trajetória para a criação da psicoterapia corporal, que contém muitos elementos em comum com as ideias de Freud. Encontramos, no campo da psicoterapia corporal, tanto profissionais que acreditam nas concepções orgonômicas de Reich quanto os que não concordam com ela, porém utilizam o conceito como forma de descrever fenômenos que ainda não podem ser compreendidos a partir de um referencial que esteja em maior sintonia com a ciência atual. Isso ocorre devido ao grande valor descritivo desse conceito em relação a acontecimentos da clínica. Na psicoterapia, na massagem e na terapia corporal é comum dizermos: “ela estava com pouca energia”; “realizei o toque com a intenção de mobilizar a energia dele”; mas fica sempre a dúvida se nos referimos a uma percepção, a um olhar ou a uma bioenergia. Em relação ao tema bioenergia, Rego, R; Albertini, P. (2013), afirmam o quanto o tema é polêmico por não ter comprovação científica e podendo estar associado apenas a uma crença. Esse parece ser um importante obstáculo quando se busca o reconhecimento social dos psicoterapeutas corporais cujo inspirador principal foi Reich. Assim sendo, na esfera da psicoterapia corporal, entende-se que independente do grau de aceitação ou crença, os resultados alcançados tem sido os mesmos e na verdade é isso que realmente importa. Faz parte do grupo que acredita na existência de alguma forma de bioenergia também aqueles que praticam formas de cura da medicina complementar como é o caso da homeopatia, a antroposofia, a acupuntura entre outras. Algumas tradições espirituais e religiões também incorporam de alguma forma essa visão, isto é, em muitas abordagens, há a consideração da vida com fundamentação energética. O filósofo francês Henri Bérgson (1859-1941), utiliza a expressão élan vital para designar um impulso original de criação de onde proviria a vida e que, no desenrolar do processo evolutivo, inventaria formas de complexidade crescente até chegar, no animal, ao instinto e, no homem, à intuição, que seria o próprio instinto tomando consciência de si mesmo
2.2 Psicologia Biodinâmica
Paciente e discípula de Ola Raknes, que introduziu e praticou os ensinamentos de Reich na Noruega, a partir de 1947, a norueguesa Gerda Boyesen (1922-2005) resolveu cursar fisioterapia depois de formar-se psicóloga com a intenção de conhecer melhor o corpo humano. Sob a influência da fisioterapeuta Aadel BülowHansen (1906-2001), começou a trabalhar com massagem. Essa vivência e forte influência da psicologia humanista na abordagem clínica, fez com que Gerda, no fim da década de 60, criasse uma nova técnica, a psicologia biodinâmica. Com o trabalho enfatizado no impulso interior, Gerda dá ênfase no paciente, se afastando das abordagens inspiradas em Reich, onde o analista exerce a direção da relação. Na psicologia biodinâmica a associação livre de ideias e movimento é bastante considerada no processo analítico. O Terapeuta estimula o paciente a se expressar seja pela fala ou através de movimentos/gestos corporais para ajudar na compreensão de sua expressão. O paciente é encorajado a dividir com o terapeuta qualquer pensamento ou gesto que possa lhe parecer sem importância, buscando não vergonha-se em sua expressão independente do conteúdo apresentado. . Rego, R; Albertini, P. (2013) relatam que Gerda Boyesen foi além das concepções reichinas que contempla a compreensão e intervenção sobre a musculatura. Gerda incluiu e enfatizou o papel das vísceras, considerando além da couraça muscular, a visceral (referente ao tubo gastrointestinal) e outra tissular (relativa ao tecido subcutâneo). Gerda Boyesen traz também o conceito de couraça secundária sendo o resultado de um trabalho terapêutico invasivo, onde o terapeuta foi além do que o paciente estava preparado para assimilar. Em resultado a esse evento, a couraça se tornaria mais intensa sendo uma resposta de suas defesas. O setting (ambiente terapêutico) também é um item destacado por Gerda como um influenciador no processo. Ao encontrar um ambiente acolhedor, o paciente sente-se mais seguro para se expor facilitando ao terapeuta fazer uma “amizade” com a resistência. Gerda entende a resistência como algo que foi estabelecido como a melhor solução encontrada pela pessoa em uma determinada fase da vida. Rego, R; Albertini, P. (2013) reforçam ainda a consonância entre o trabalho de Gerda Boyesen com os temas elaborados pelo psicanalista inglês Donald W. Winnicott (1896-1971), como a questão do holding, da mãe suficientemente boa e do falso self. Gerda formulou teorias e técnicas importantes para o trabalho com questões que remetem a conflitos e deficiências ocorridos no primeiro ano de vida. Gerda Boyesen guarda em forma de trabalho, semelhanças com o papel de Melanie Klein (1882-1960), psicanalista austríaca que também incorporou à técnica e à teoria os elementos relativos ao primeiro ano de vida do paciente. Dentre as escolas de psicoterapia corporal, a psicologia biodinâmica é a que mais valoriza o trabalho com toque. São diversas manobras de massagens com a compreensão de que é possível haver um diálogo entre o terapeuta e o paciente através desse recurso somático. (Rego et al, 2014 p.29), destacam que: 22 A teoria da psicologia biodinâmica se fundamenta em concepções que enfatizam a conexão mente e corpo e o entendimento de que o organismo humano é composto por diversas dimensões que interagem entre si.
3. MÉTODO
3.1 Estratégia de busca bibliográfica e identificação dos artigos elegíveis
A localização do material bibliográfico se delimitou nas bases: Pubmed e Scielo. Os descritores utilizados foram: “meditação”, “psicologia”, “psicoterapia corporal”, “auto regulação”, “biodinâmica”, “saúde mental”, “saúde física”, e o cruzamento entre eles. Foram utilizados também para elaborar essa pesquisa livros, sites e artigos relacionados. Foram selecionados os trabalhos que apresentavam foco-principal ou secundário em meditação como recurso no processo psicoterápico e sua contribuição com a saúde mental e física. Os trabalhos utilizados foram aqueles publicados nos últimos dez anos acrescidos dos artigos de frequente citação entre os primeiros.
4. RESULTADOS
“Faça tudo o que puder, com tudo o que tiver, no tempo de que dispuser, no lugar onde estiver” (Nkosi Johnson)
O objetivo da presente pesquisa foi realizar uma revisão de literatura para destacar a contribuição da prática meditativa no processo terapêutico, tanto para o analista (terapeuta) quanto para o analisado (paciente) na abordagem da Psicologia Biodinâmica. Apesar de numerosos estudos demonstrarem que a prática da meditação pode ter efeitos significativos sobre diversos processos afetivos e cognitivos, muitos ainda veem a meditação como uma técnica destinada principalmente para relaxamento e redução de estresse. Embora a meditação pareça reduzir o estresse e induzir a um estado de relaxamento da mente, a sua prática também pode ter efeitos significativos sobre como as pessoas percebem e processam o seu mundo interno, o mundo à sua volta e alteram a forma como elas regulam a atenção e emoção. Lutz et al (2008) propõem que os resultados obtidos com a prática meditativa diferem de acordo com o tipo de meditação praticada. Atualmente, os tipos mais pesquisados da meditação incluem a meditação de atenção focada (FA), e a meditação de monitoramento aberto ou perceptiva (OM). Infelizmente, no entanto, a diversidade metodológica entre os estudos disponíveis no que se refere às características da amostra, técnicas utilizadas, e desenho experimental, torna a comparação entre elas difícil. A investigação de estados e características relacionados à meditação tem especialmente apresentado implicações para a neurociência da atenção, consciência, autoconhecimento, empatia e teoria da mente (Raffone & Srinivasan, 2009). Conseguimos perceber assim que, a prática da meditação traz, efetivamente, muitos benefícios cognitivos e psicológicos, também a depender da técnica utilizada. A prática da meditação, desenvolve a capacidade de monitorar o foco de atenção , a fim de ” redirecioná-lo ” no caso de pensamentos conflitantes ou de eventos externos, trazendo maior autonomia ao indivíduo em relação as circunstâncias da vida e a maneira como lida com elas. Lutz et al (2008), reconhecem que diferentes práticas podem envolver diferentes redes cerebrais, mas em todas as práticas meditativas há a necessidade de treinar a atenção. Estudos longitudinais indicam que a prática da meditação resulta em mudanças significativas no processamento de estímulo mais consistente, dinâmico e flexível das funções da atenção. Melhorias na seleção de atenção e controle foram percebidas a partir da prática de mindfulness. Parece que conscientemente, focando as experiências somatossensoriais da respiração há uma melhoria específica nos processos centrais do controle da atenção, que são consideradas a parte central da prática da atenção plena. O trabalho de pesquisa de Chambers, et al (2008), indica que o treinamento em mindfulness melhora significativamente a capacidade de memória de trabalho e da atenção sustentada durante a tarefa. Estes resultados suportam a ideia sobre a eficácia do desenvolvimento da atenção plena como uma intervenção de potencial aplicação em uma ampla gama de áreas de pesquisa e prática psicológica. Sugere também que a prática da atenção plena pode aumentar a capacidade de memória de trabalho. Entretanto, são necessárias mais pesquisas para a maior compreensão dos complexos processos subjacentes da prática de mindfulness. Há uma determinada necessidade de ensaios clínicos randomizados com amostras maiores, bem como estudos que possam avaliar o impacto do treinamento em mindfulness a longo prazo. Em relação ao tempo de prática, Menezes & Bizarro (2015), informam que se é possível avaliar o manifesto de algum benefício em pouco tempo de prática meditativa, os efeitos precoces poderiam funcionar como motivadores facilitando a manutenção e regularidade da prática, e, consequentemente, a manutenção dos benefícios psicológicos. Concluíram que as alterações observadas indicam que treinamentos de meditação tem um potencial importante de aplicabilidade, podendo ser incorporados em diferentes contextos, como por exemplo, ambientes educacionais ou de trabalho, serviços dos cuidados de saúde física e mental, e até mesmo no contexto de intervenções individuais, seja no setor público ou privado. A Psicologia Biodinâmica é uma Psicoterapia com uma orientação somática, com base fisiológica para a Psicoterapia. Ela envolve elementos biodinâmicos do organismo a níveis psíquicos e somáticos. Considera o relaxamento dinâmico, que consiste em deitar, acalmar, relaxar totalmente o corpo, essencial para 26 acessar conteúdos psíquicos recalcados. O trabalho biodinâmico leva o paciente a se reencontrar com suas pulsões reprimidas, auxiliando-o a libertar-se dos recalcamentos, possibilitando ao paciente redescobrir sua vitalidade, sua essência e seu bem-estar na independência. Estar atento às respostas corporais é um indício importante para a compreensão do movimento interno do paciente. A prática meditativa certamente poderá contribuir com o refinamento da percepção do praticante uma vez que é objetivo da prática intensificar a observação do momento utilizando elementos de foco, sejam internos ou externos. A prática da atenção plena (mindfulness), por exemplo, utiliza a respiração e as sensações corporais como foco de sua atenção para desacelerar a movimentação mental e como um caminho para alcançar o estado alterado de consciência. Ao aumentar a sua auto-percepção, o paciente terá condição de observar melhor os seus pensamentos, sentimentos e sensações físicas, podendo levar para a sessão de análise mais conteúdo. A prática meditativa também está associada à diminuição da ansiedade, o que contribui muito com o processo terapêutico. Rego, R; Albertini, P. (2013) ressaltam que os insights são facilitados quando a atenção do momento é trazida para as sensações seja da pele, do sistema de locomoção ou até das vísceras. É possível que conteúdos inconscientes venham à luz da consciência como resultado dessa abordagem, encurtando o caminho do paciente em direção a apropriação de si mesmo. Para o trabalho terapêutico efetivo, é também preciso que o terapeuta (analista) esteja de fato “presente” no atendimento para notar quais recursos são mais adequados para o paciente naquele momento seja o toque, o silêncio, o acolhimento ou o diálogo. Estar de posse de seus processos internos possibilita um bom manejo da transferência e da contratransferência, um bom desempenho na realização da leitura corporal, já que no trabalho biodinâmico o psicossoma do terapeuta age em todos esses processos. Na aplicação da massagem, o profissional firmemente focado tem mais condição de praticar o que Reich chamava de “sensação de órgão”, a reverberação de estados do paciente no corpo/mente do terapeuta e dessa forma fazer um uso adequado e mais preciso da intenção. Além dos benefícios da atenção plena para o exercício de sua função como terapeuta, o analista desenvolverá, a partir da prática meditativa no modelo mindfulness, o não julgamento, aumentando a aceitação de si e do outro. Uma pesquisa verificou que a prática meditativa se associou à ativação do córtex pré-frontal esquerdo (Davidson et al., 2003), que está relacionado a afetos positivos e a maior resiliência (Davidson, 2004). Essas respostas contribuem de forma importante para o terapeuta quando da constatação de sua contribuição e expectativa em relação ao percurso do analisado (paciente). Portanto, o estudo da meditação e de seus efeitos deve considerar as características do sujeito antes da prática, os estados que ocorrem durante ou pouco tempo após a meditação, e, por fim, as mudanças duradouras resultantes da prática continuada (Davidson & Goleman, 1977). 28
5. DISCUSSÃO
O objetivo da presente pesquisa foi realizar uma revisão de literatura para destacar a contribuição da prática meditativa no processo terapêutico para o analista (terapeuta) e para o analisando (paciente) de psicologia biodinâmica. Assim, é importante pensar a relação entre a meditação e a medicina psiquiátrica, onde pontuam-se restrições às práticas meditativas em pacientes com transtornos mentais graves, devido ao aumento da possibilidade da ocorrência de surtos psicóticos (ASSIS, 2013). Sobre tais pacientes, Goleman (1997, p.184) menciona: Um paciente que passa por crises psicóticas pode provavelmente piorar sua apreensão da realidade, ficando excessivamente absorto em realidades interiores; aqueles em estados emocionais agudos podem estar agitados demais para começar a meditação. Assis (2013) reforça a necessidade de um critério de avaliação das técnicas de meditação a serem utilizadas a partir da análise da estrutura clínica daqueles que se propuserem a meditar. Entretanto, aponta alguns pesquisadores que ao utilizarem a meditação Mindfulness como forma de tratamento para pacientes psiquiátricos observaram a diminuição do nível de ansiedade. Martim (1997) faz considerações acerca da meditação e da psicoterapia, esclarecendo que ambas as práticas buscam a eliminação das barreiras do ego, a fim de que as potencialidades humanas se manifestem. Goleman (2003). Cardoso (2014) diz que uma vez confrontado com os mecanismos básicos da sua mente, o psicoterapeuta tem a oportunidade de mostrar ao paciente a mente exatamente como um mecanismo. Isso pode ser um enorme catalisador no caminho meditativo, pois é exatamente o que busca o relaxamento da lógica. Com o tempo, vivenciando a existência fora do terreno cognitivo, o meditador transforma o preceito de Descartes, que dizia “penso, logo existo” e passa a perceber o que de fato acontece: “percebo que penso, portanto também existo fora da linha dos pensamentos”. Mas para perceber que pensa, a mente tem que ter-lhe sido apresentada como um mecanismo. Assim, é possível buscar a sua identidade, sem estar limitado aos conceitos que a mente oferece. 29 Todos estes dados, aliados a resultados que mostram uma relação entre a prática meditativa e uma maior autoconsciência (Brown & Ryan, 2003; Chambers et al, 2008), ajudam a compreender por que a meditação tem sido chamada de técnica metacognitiva (Bishop et al, 2004). A cognição, contudo, não é um processo isolado, mas está em estreita relação com as emoções (Gross, 2002). Assim, é de esperar – e os dados apontam neste sentido – que, além de desempenhar um papel na regulação atencional, a meditação também pode influenciar a regulação emocional, sendo que estas respostas podem ser concomitantes e interdependentes (Brown & Ryan, 2003; Chambers et al, 2008; Tang et al, 2007). O psicoterapeuta no exercício de seu trabalho, pode contribuir com o paciente com a busca de seus caminhos, compreensão de si mesmo, queixas e neuroses. O seu foco – via de regra – é levar o indivíduo a olhar para si mesmo, a questionar a si próprio, a fim de que encontre suas próprias respostas para as situações que a vida lhe apresenta. Conforme ressalta (Ribeiro, 2013, p.87): Psicoterapia é um processo de tomada de posse de si próprio, no que concerne, sobretudo, às próprias potencialidades. O analisando constrói sua caminhada, percorrendo o seu caminho, atento aos atalhos. Nessa perspectiva, o psicoterapeuta não é aquele que cura, mas aquele que cuida. Sentir-se cuidado, entretanto, é um poderoso processo de mudança que permite ao cliente repensar com mais segurança os próprios caminhos, as próprias possibilidades de cura. São muitas as formas de movimentos expressivos e exercícios utilizados na psicoterapia corporal. O trabalho com a respiração é um deles com o propósito de favorecer a expressão de conteúdos emocionais e psíquicos. Além da respiração, há outros trabalhos com propostas diversas para aumentar a vitalidade do organismo, afrouxar a hipertonia muscular, tonificar a hipotonia muscular, ampliar a consciência corporal para melhor compreensão de sua expressão. Reich trouxe grande contribuição com o trabalho na respiração ao perceber que o recalque e outros mecanismos de defesa psíquicos estão intimamente conectados ao bloqueio respiratório. Rego, R; Albertini, P. (2013, p ) relatam que: 30 Quando se afrouxam as tensões no diafragma e em outros músculos respiratórios, vemos que isso frequentemente tem como consequência o aparecimento de conteúdos antes inconscientes, em geral com grande carga emocional, facilitando assim o surgimento de “material analítico”. Este recurso de trabalhar o padrão respiratório apresentado pelo paciente pode contribuir com o processo analítico. A padrão respiratório reflete o estado emocional da pessoa do momento e através dele também é possível mudar esse estado emocional. A psicoterapia corporal considera e valoriza esse recurso em seu trabalho terapêutico. Todos os recursos que possam trazer ao paciente algum tipo de relaxamento ou que o faça respirar de forma mais harmônica são considerados valiosos para o tratamento. Uma das formas mais comuns de haver um distanciamento de si mesmo é a falta de auto-percepção. A pessoa não tem consciência do próprio corpo e com isso não percebe os sinais que ele emite. É como se a pessoa estivesse de certa forma anestesiada sobre si mesmo, perdendo contato com as suas sensações. A psicoterapia corporal visa enriquecer essa relação, trazendo ao paciente a possibilidade de um reencontro consigo, reconhecendo e se apropriando do próprio corpo e suas sensações, facilitando os insights e a conscientização de conteúdos até então inconscientes. Rego, R; Albertini, P. (2013) lembram que isso está em sintonia com as concepções das neurociências atuais. Antônio Damásio, neurocientista português, diz que “o homem está evoluindo para conciliar a emoção e a razão”. Em seus livros, Damásio enfatiza o papel das emoções e sentimentos na razão humana e quais são os processos que produzem o fenômeno da consciência e relata o papel da percepção do que ele chama de paisagem corporal na geração da consciência e dos sentimentos. Rego, R; Albertini, P. ( 2013. p. 115) reforçam que: .A psicologia biodinâmica estuda e trata dos processos psicológicos no contexto amplo do processo de vida de uma pessoa. Os processos “da mente” e “do corpo” são vistos como aspectos em interfuncionamento de um único desenvolvimento biodinâmico. Quando consideramos a neurose como um desenvolvimento tanto fisiológico quanto psíquico, incluir a expressão corporal além da verbal enriquece as possibilidades de compreensão e elaboração dos conteúdos expressos pelo paciente. A terapia biodinâmica abrange muito trabalho com as tensões do corpo e suas restrições – usando massagem especial e técnicas de movimento. Quando o organismo classifica uma situação como “estressante”, o corpo se tenciona, camada a camada, até alcançar o desenvolvimento do sintoma neurótico, podendo ser somático ou comportamental. Toda emoção, todo trauma, e também as frustrações proporcionam uma consequência fisiológica e psicológica direta na pessoa. As emoções que não são expressas repetidamente, e os conflitos que não resolvidos trazem consequências que acabam por se tornar crônicas influenciando na forma de ser da pessoa. (Caderno de Psicologia Biodinâmica1, 1983) Considera-se um organismo saudável quando se existe o poder de exprimir, a capacidade de se resolver e digerir as circunstâncias inesperadas da vida e até mesmo choques emocionais de grande impacto, desde que haja as condições necessárias de paz e segurança ao meio em que se está inserido. A neurose se desenvolverá apenas quando a pessoa perde sua capacidade inerente e natural de autorregulação e de autocura. Uma das propostas da terapia Biodinâmica é restaurar esta perda ou diminuição da capacidade de autorregulação e procurar alcançar o “núcleo vivo”, “o elán vital” da pessoa, estimulando e encorajando sua expansão. (Caderno de Psicologia Biodinâmica 1, 1983) 32
6. CONCLUSÃO
A partir da leitura dos artigos citados no trabalho, percebo que um dos principais pontos de dificuldade para comparar e agrupar os estudos sobre as benesses do exercício meditativo é a variedade da prática meditativa. Além dessa questão, os diferentes critérios de classificação como meditação para que os resultados dos estudos possam efetivamente serem comparados uns com os outros. Se partimos de premissas diferentes, a análise sofre uma importante distorção. É notável que o interesse pelo estudo dos efeitos e ganhos que a prática meditativa traz ao indivíduo tem crescido muito e com isso os métodos de estudo tem se aprimorado. Ambos, cientistas ocidentais e estudiosos budistas reconhecem que a capacidade de se concentrar e manter a atenção em um objeto destinado requer habilidades envolvidas no acompanhamento do foco de atenção e detecção de distração. Assim, podemos, com base nos trabalhos aqui citados, concluir que a experiência subjetiva da meditação se reflete de diversas formas, com predominância de benefícios cognitivos e emocionais, e que esta prática pode constituir uma ferramenta para o desenvolvimento psicológico saudável, aí incluindo uma melhor atenção e autorregulação. Considerando o analista (terapeuta) e o analisado (paciente) como possíveis praticantes de meditação, conseguimos perceber os ganhos a partir da prática em suas posições. A melhora na atenção, como resultado da prática meditativa pode aprimorar a auto-perceção, as sensações corporais e a relação do indivíduo com o mundo interno e externo e com isso acelerar o processo psicoterápico. Sendo ambos praticantes frequentes de meditação, a possibilidade de fortalecimento do vínculo terapêutico pode acontecer. Através do exercício meditativo pratica-se o exercício de não-julgamento, aumentando a aceitação de si e do outro, aspectos que diminuem as expectativas notadas nas relações. Compreende-se a limitação em si e no outro, enxergam-se as luzes e as sombras como algo íntegro e comum ao humano. Com relação aos sistemas cognitivos, tem sido observado que o treino da focalização da atenção, característico da prática meditativa, pode realmente auxiliar no controle desta função. Estudos utilizando tarefas comportamentais mostraram que o treino da meditação pode modular mecanismos atencionais e aumentar a capacidade 33 do processamento de informação mediante um maior controle da distribuição dos recursos mentais. Essa atenção alimenta a capacidade de presença do indivíduo na vida aprimorando a qualidade de suas relações. Dentro do que foi apresentado da psicologia biodinâmica, notam-se as similaridades de exercícios utilizados como recurso terapêutico, como por exemplo: exercícios respiratórios, interiorização e o trabalho de percepção das sensações corporais com a prática meditativa de monitoramento aberto como é o caso da atenção plena (mindfulness). Desta forma, entende-se que são práticas que se complementam pois possuem o objetivo comum de retomada da capacidade de autorregulação do indivíduo, estimulando e encorajando a sua ampla expansão. É importante enfatizar que nesse estudo não houve a intenção de realizar uma revisão sistemática de literatura sobre os temas e sim a sua congruência e o aumento da potencialidade de seus efeitos e objetivos quando se refere a um processo terapêutico, a relação entre o analista (terapeuta) e o analisado (paciente) e a possibilidade de expansão de cada indivíduo dentro deste contexto. Considerar resultados de estudos que apresentem práticas clínicas em relação as diversas práticas de meditação em tratamentos psicoterápicos são de grande valia a agregar a esta revisão. Apesar de todas as evidências apresentadas quanto a contribuição da prática meditativa em um processo psicoterápico, fica claro que ainda assim, é necessário que a pesquisa continue empenhada em compreender cada vez mais o impacto que a meditação gera no praticante.
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