3.Psicologia Biodinâmica:
A Psicologia Biodinâmica é uma técnica de psicoterapia corporal que surgiu na década de 1960, em Londres, quando teve suas bases teóricas e técnicas formuladas por Gerda Boyesen, psicóloga e fisioterapeuta norueguesa. Tem como fundamentos a teoria e a técnica de Aadel Bülow-Hansen no âmbito da fisioterapia, a psicanálise de Freud, a psicoterapia corporal de Wilhelm Reich e outras abordagens energéticas. A partir da Psicanálise de Freud, a Psicologia Biodinâmica incorporou os seguintes conceitos:
- A existência de processos mentais inconscientes, que são dinamicamente ativos e estão na base de distúrbios psíquicos e de inúmeros fenômenos percebidos pela consciência,
- A Metapsicologia Freudiana como eixo de compreensão dos processos psíquicos,
- O conceito de desenvolvimento psicossexual,
- A psicodinâmica resultante do conflito entre pulsão e defesa como fundamento da compreensão do psiquismo,
- Os conceitos de fixação e regressão,
- O estudo dos mecanismos de defesa,
- A clínica baseada nos conceitos de resistência, transferência e contratransferência,
- A formulação de um processo analítico onde são importantes tanto a revelação (conscientizar o que é inconsciente) quanto a criação (no sentido de novas experiências reparadoras que se dão no âmbito da relação terapêutica),
- Uma técnica que valoriza a atenção flutuante e a associação livre.
A partir da Psicoterapia Corporal de Reich, a Psicologia Biodinâmica incorporou os seguintes conceitos:
- Valorizar o trabalho corporal na psicoterapia,
- Aceitar a importância da respiração e do aparelho locomotor na dinâmica emocional,
- Fazer uso do conceito de uma bioenergia,
- Dar importância primordial à capacidade humana de auto-regulação somática e psíquica,
- Entender a importância de analisar o caráter e agir sobre a couraça muscular,
- Valorizar a vitalidade e o prazer,
- Valorizar o que é espontâneo.
(Psicologia Biodinâmica – o que é. Disponível no site do IBPB, acesso 08/10/2011) Propõe-se a ser uma visão de mundo em que corpo e mente são aspectos de um mesmo organismo. Tem como princípio o respeito à singularidade de cada ser humano, buscando incentivar sua criatividade, potência e espontaneidade de forma afetiva, tolerante e não-invasiva. Como nas psicoterapias reichianas e neo-reichianas, trabalha o corpo sem excluir dele o psiquismo, e vice-versa e dá atenção especial para as expressões corporais da pessoa. Analisa o caráter do paciente ajudando-o a compreender seu modo de funcionamento, sempre relacionando emoções aos efeitos corporais correspondentes. Não segue nenhum curso predeterminado de tratamento, varia de acordo com as necessidades individuais de cada paciente. Tem como diferencial o uso da massagem biodinâmica como ferramenta terapêutica e também utiliza exercícios de vegetoterapia. Gerda foi além do estudo das couraças musculares, e após longo percurso, definiu couraça tissular e couraça visceral. De forma simplificada pode-se dizer que as couraças funcionam como “armaduras” que são desenvolvidas pelo indivíduo para protegê-lo de traumas sofridos. As pesquisas em Biodinâmica, articuladas por Boyesen, revelaram que as couraças são formações reativas ligadas a repressões que ocorreram em fases muito primitivas do desenvolvimento do indivíduo, ou seja, desde o nascimento até a fase de controle de esfíncter, acarretando problemas psicológicos e psicossomáticos, pois impedem que a energia vital circule naturalmente pelo corpo o que corresponde à imensa dificuldade em expressar emoções e vem a ser um grande obstáculo no crescimento do indivíduo. Segundo a Psicologia Biodinâmica, as couraças, além de serem musculares (hiper ou hipotonia muscular localizada), se estenderiam para as vísceras (como resultado de alterações crônicas no sistema nervoso autônomo, causando assim, disfunções nas secreções e na musculatura lisa do intestino, tornando-o hiper ou hipotônico, ou seja, preso ou solto demais) e para os tecidos – couraça tissular – (excesso ou falta de defesa a nível epidérmico). A couraça tissular é fruto da má circulação energética que, por sua vez, impede que as substâncias produzidas pelo organismo sejam eliminadas, quando não se fazem mais necessárias. Desde sua descoberta e formulação, na década de 1920, a couraça tem sido vista e compreendida como um entrave, um sintoma da neurose e um empecilho ao funcionamento saudável por boa parte dos que tomam contato com a teoria reichiana. Vistas apenas como obstáculos, as couraças muitas vezes são abordadas do mesmo modo como eram tratadas as resistências, como algo que deve ser retirado do caminho no intento de entrar em contato com processos mais profundos e genuínos. Em seus trabalhos sobre couraça Reich deixa clara sua preocupação com uma compreensão mais ampla de seu funcionamento e de seu papel na estrutura psíquica. A couraça é o recurso que permitiu e ainda possibilita ao indivíduo suportar a falta de descarga adequada para suas pulsões mais profundas. Assim, além de seu desempenho como barreira à expressão vital ela possui uma função protetora. Dentro da dinâmica da personalidade neurótica a couraça é o mecanismo responsável por intermediar o conflito eu (prazer) – mundo (frustração). Ela é, por assim dizer, a tábua de salvação, que a pessoa encontrou para sobreviver aos conflitos de outra forma insolúvel. Com o intuito de atuar sobre as couraças, favorecendo o derretimento das mesmas, e assim eliminando os resíduos de stress e restabelecendo a circulação libidinal e a saúde psicossomática do paciente, Gerda desenvolveu uma série de técnicas de massagem e criou a teoria da Psicologia Biodinâmica, segundo a qual o conceito de psicoperistalse como forma de auto-regulação do organismo é de fundamental importância no tratamento das patologias. Por este motivo, ao aplicar a massagem biodinâmica, o terapeuta utiliza-se de um estetoscópio sobre o ventre do paciente para que assim possa se guiar pelos sons peristálticos. A Psicologia Biodinâmica procura restaurar a capacidade de encontrar o núcleo ou “centro energético” ou ainda a personalidade primária do paciente, encorajando-o a expandir e encontrar seu “bem estar independente”. A auto-regulação é então uma meta terapêutica e o terapeuta biodinâmico concentra-se basicamente em restabelecer a capacidade do paciente de se auto-regular. O trabalho biodinâmico leva o paciente a se reencontrar com suas pulsões reprimidas, auxiliando-o a libertar-se dos recalcamentos. E, desta forma, possibilita ao paciente, redescobrir sua vitalidade, sua essência, seu bem estar na independência. A proposta é de uma intervenção não invasiva, através de massagens, técnicas de movimentos e também da fala, buscando restabelecer o processo de autorregulação psíquica, suavizando os bloqueios produzidos pelas couraças e conseqüentemente da subjetividade nelas contidas. Na massagem os movimentos psicoperistálticos seriam indicadores de um caminho possível para o psicoterapeuta operar os processos de desbloqueio das couraças muscular, visceral e de tecidos. Deste modo favoreceria o processo de limpeza de resíduos de tensão emocional, provenientes de traumas passados e também do estresse do dia a dia. (Gerda Boyesen – Biography of Gerda Boyesen) É importante que o terapeuta seja “suficientemente bom”, ou seja, deve abrir mão de suas expectativas e atuar como facilitador do processo de autoconhecimento e conscientização de conteúdos até então recalcados pelo paciente. Se o terapeuta atuar de forma invasiva pode levar o paciente a um surto psicótico por ausência de defesa ou ainda a construção de uma couraça secundária. Gerda Boyesen definiu a massagem biodinâmica como “psicanálise do corpo”. 4.Costurando o Método Pilates e a Psicologia Biodinâmica O Método Pilates busca o resgate dos movimentos naturais, da flexibilidade, da graça natural e de habilidades da infância, respeitando as características físicas e capacidades individuais de cada praticante. Proporciona equilíbrio entre as cadeias musculares, anterior e posterior (trabalhando com movimentos que favorecem expansão e contração). Prima pelo específico e respeita as diferenças. O Método é adaptado à pessoa, e oferece espaço para que o indivíduo possa reconhecer seu modo de funcionamento (potencialidades e limitações) e assim revelar uma forma de comunicação única e suas relações de autoconstrução e interpretação em relação ao mundo. Falo aqui de consciência corporal e propriocepção, ou seja, percepção do próprio corpo, que inclui consciência da postura, do movimento, das mudanças no equilíbrio, além de englobar as sensações ligadas ao movimento. E de uma grande semelhança com a Psicologia Biodinâmica. É possível trabalhar com o Método Pilates focando objetivos variados, mas este método é especialmente indicado para correção postural. Porém quando um indivíduo se exercita com o intuito de corrigir a postura, está sujeito a mudanças nos padrões comportamentais e emocionais. Segundo Keleman, emoções, sentimentos e pensamentos se organizam em padrões corporais e novos comportamentos emergem quando eliminamos velhos padrões e organizamos outros. Podemos observar que ocorrem muitas mudanças com a continuidade do treinamento, mas que todo ganho é resultado de paciência e determinação. Além disso, quando falamos em exercícios do Método Pilates, falamos também de exercícios respiratórios. A intenção é levar o praticante a reconhecer seu ritmo e sua capacidade respiratória, bem como ampliá-la e torná-la mais saudável se assim for necessário. Trabalhar a respiração por si só pode ser mobilizador. Observa-se que durante e após uma sessão de Pilates, ocorre, em algum grau, um relaxamento do tecido muscular e com isso um afrouxamento das couraças musculares, o que poderá favorecer o surgimento de reações agradáveis ou desagradáveis ao praticante. Segundo Rubens Kignel:
“quando o sistema de defesa muscular é afrouxado, os padrões emocionais subjacentes reprimidos e os elementos vegetativos presentes nesses padrões reprimidos novamente reaparecem. Em outras palavras, o organismo se depara mais uma vez com uma situação de emergência emocional não resolvida, da qual tentou originariamente escapar por meio da repressão. Se continuar, essa liberação do vegetativo pode conduzir, então, a uma catarse organismica.” (14, pg .44)
Defendo a idéia de que se mudanças no padrão postural e/ou respiratório forem bruscas, conquistadas através de exercícios que visam apenas músculos, articulações, ossos ou condicionamento e capacidade respiratória, poderá trazer conseqüências desagradáveis ao praticante, que, na melhor das hipóteses, abandona o treinamento e retorna ao padrão postural original, já conhecido por ele. Para que não ocorram choques, que possam desencorajar o praticante a continuar seu treinamento, a proposta do Pilates Biodinâmico é que o instrutor de Pilates, além de abrir mão de suas expectativas, deve se preocupar em reconhecer o caráter predominante de cada aluno e a compatibilidade entre o exercício proposto, a necessidade física e condição emocional do aluno no momento. Este é o “olhar biodinâmico” na prescrição de exercícios do Método Pilates. Porém, é preciso levar em conta que durante uma sessão de Pilates é possível que o praticante venha a ter reações e ab reações, e então entram em cena novamente os ensinamentos da Psicologia Biodinâmica, onde a primeira necessidade da pessoa é ser acolhida. A atuação do instrutor de Pilates Biodinâmico é estar presente para ouvir, tocar, massagear, oferecer um colo cuidadoso ou ainda propor movimentos que possam favorecer a expressão, na busca do bem estar e da autorregulação. Com os exercícios do “Pilates Biodinâmico”, o instrutor deve procurar levar o indivíduo a desenvolver seu potencial físico e mental, dentro de seus limites, ou seja, não basta “endireitar um ombro”… Para que haja transformação é necessário criar possibilidades para que o praticante encontre seu próprio equilíbrio. Quando respeitamos o ritmo de nossos alunos podemos observar que as mudanças físicas estão sempre acompanhadas de mudanças no comportamento e no padrão emocional. Mudanças estas que vão sendo aos poucos incorporadas no dia a dia de cada um. Desta forma, acredito que a prática dos exercícios do Pilates Biodinâmico podem ser ferramentas valiosas no processo de crescimento emocional através da consciência corporal, da propriocepção e do autoconhecimento. Faça o download aqui da Tese completa em formato PDF( 573 Kb)