O falso si-mesmo na obra de Winnicott

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O conceito do falso si-mesmo proposto por Winnicott pode ser de grande importância na clínica quando nos deparamos com pacientes que se queixam de esvaziamento do sentido da vida e da sensação de inutilidade.
Leia o artigo da psicóloga Eliane Faria que aborda as ideias de Winnicott sobre o “falso si-mesmo” e suas principais implicações para o desenvolvimento pessoal.

Introdução

Donald Woods Winnicott (1896-1971) teve seu ponto de partida profissional na pediatria e posteriormente em Psicanálise. Com sua formação e vasta experiência na clínica infantil, contribuiu consideravelmente para as bases teóricas e práticas da psicanálise. Ao estudar os bebês e suas mães, pôde perceber que era muito difícil explicar complicações emocionais que as crianças apresentavam partindo apenas do pressuposto edípico, base da psicoloppatologia psicanalítica freudiana. O autor estudou o pensamento de Sigmund Freud e Melanie Klein, na tentativa de buscar explicações teóricas para suas observações clínicas durante sua experiência na pediatria, porém ao aprofundar seus conhecimentos na psicanálise tradicional, percebeu que parte desta teoria não explica o que acontece emocionalmente com o bebê no início da sua vida. Assim, Winnicott abandonou conceitos da metapsicologia freudiana e criou novos, com contribuições notáveis como a preocupação com o ambiente inicial e a relação mãe e bebê. Elaborou uma proposta teórica que leva em consideração questões relativas ao início da vida dos bebês, como por exemplo, a necessidade de estabelecer uma parceria psicossomática, a impossibilidade de diferenciar entre eu e o não eu e de ter relações interpessoais no início da vida, entre outras. Em seu artigo, De Freud a Winnicott: aspectos de uma mudança paradigmática, Loparic escreve que “o novo exemplar proposto por Winnicott é o bebê no colo da mãe, que precisa crescer, isto é, constituir uma base para continuar existindo e integra-se numa unidade” (Loparic, 2006, p. 36), ele coloca que o autor promoveu uma mudança de paradigma ao passar do eixo da teoria da sexualidade para o amadurecimento pessoal do indivíduo A teoria do desenvolvimento pessoal elaborada por Winniocott pode ser apresentada por estágios, em que o indivíduo, com o auxílio de um ambiente facilitador, realiza tarefas e conquistas para constituir uma personalidade integrada. Em seu entender, é da sintonia entre necessidade do bebê e cuidado ambiental que se formam as bases da constituição do ser.
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Nesta teoria também é possível encontrar um entendimento do amadurecimento humano, e uma conceituação de saúde e doença, que abre novas possibilidades para o diagnóstico e tratamento na clínica psicanalítica. Ao estudar os estágios iniciais do desenvolvimento humano, quando a dependência do bebê com relação ao ambiente é total ou relativa, Winnicott evidencia a psicose como uma patologia cuja origem está focada num ambiente não facilitador ao amadurecimento nos primeiros momentos de vida. Isto quer dizer que o bebê, que é ainda imaturo e não atingiu a integração numa identidade unitária e teve uma série de falhas no atendimento às suas necessidades no início da sua vida, começa a reagir a essas falhas e, desta forma, é estabelecida uma patologia psíquica. Nas palavras do autor:

a psicose, que está etiologicamente ligada a falha ambiental, falha em facilitar o processo de maturação, no estágio da dependência dupla. O termo dependência dupla indica que a provisão essencial estava completamente fora da percepção e compreensão do lactente naquela época. A falha aqui pode ser chamada de privação. (Winnicott,1963c [1965b]/1983, p. 203)

Nestes casos, se a privação, isto é, as falhas primitivas do ambiente inicial do bebê, perduram como um padrão e não são corrigidas, o bebê poderá elaborar uma organização defensiva a fim de lidar com estas invasões, podendo se instalar aí, dentre os distúrbios psicóticos possíveis, uma defesa denominada de falso si-mesmo. O presente estudo, que tem por objetivo examinar os aspectos dessa defesa, inicia-se com uma explicitação de como o autor entende a constituição do si-mesmo e sua importância para o estabelecimento de um indivíduo saudável. Posteriormente, o trabalho, apresenta a descrição das falhas ambientais relacionadas à constituição do falso-si mesmo. Por fim, examinamse as implicações clínicas frente a essas descobertas e quais as possibilidades no tratamento psicanalítico dos pacientes diagnosticados como falso si-mesmo.

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Capítulo I – Aspectos da teoria winnicottiana do amadurecimento humano centrais para o estudo do tema escolhido

Pode-se dizer que o desenvolvimento emocional do ser humano, numa visão winnicottiana, está norteado principalmente por dois elementos: a tendência inata ao amadurecimento, ou seja, o bebê nasce com um potencial herdado que poderá promover seu desenvolvimento e integração, porém esse potencial dependerá de um ambiente facilitador favorável a este processo. Araújo comenta que “Winnicott, quando usa a palavra ambiente isoladamente, faz menção às condições físicas e psicológicas (tanto subjetivas quanto internas) do ambiente que envolve o ser humano e são necessárias ao amadurecimento emocional deste.” (Araújo, 2011, p. 227). O autor defendeu que, no início da vida, o indivíduo ainda não se encontra constituído, e o processo do amadurecimento bem-sucedido dará a ele essa possibilidade. Winnicott coloca que:
O ambiente, quando suficientemente com, facilita o processo de maturação. Para isso acontecer a provisão ambiental, de modo extremamente sutil, se adapta às necessidades cambiantes se originando do evento da maturação.” (Winnicott,1963c [1965b]/1983, p. 201)

O ambiente facilitador, inicialmente, será a mãe e, mais tarde, irá se estender para o pai, a família e a sociedade. Portanto, pode-se afirmar que, nesta concepção, durante o processo de amadurecimento, a pessoa saudável irá caminhar de uma condição de ‘não integração’ ou não constituído para um estado integrado, à medida que o ambiente fornece condições adequadas, isto ao longo dos vários estágios que compõem o processo de amadurecimento. Estes estágios são descritos da seguinte maneira: dependência absoluta, dependência relativa e independência relativa. No decorrer destes, o indivíduo irá se deparar com tarefas respectivas a cada fase e terá que fazer conquistas relativas a cada uma delas, tendo sempre um ambiente facilitador, que deve proporcionar condições específicas em cada momento para que o amadurecimento ocorra a partir da sua criatividade e espontaneidade.
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1.1) O estágio da dependência absoluta: a importância dos estágios iniciais
Neste estudo, será tratada a fase inicial do processo de amadurecimento, o estágio da dependência absoluta, pois é mais comum que a defesa do falso si-mesmo, objeto deste estudo, seja organizada neste período. Além disso, esta teoria pressupõe que os alicerces da personalidade do indivíduo são construídos nestes momentos iniciais do amadurecimento e para que isso aconteça alguns fatores revelam-se essenciais a essa construção, entre eles: a relação mãe-bebê e suas características específicas nesse período, as quais apresentarei em linhas gerais, a seguir. Ao nascer, o bebê experimenta situações e vivências até então desconhecidas, lidar com estados de fome, de sono e vigília, experiências corpóreas, cansaço, e até mesmo a gravidade são experiências completamente novas para ele. Neste momento, a adaptação completa da mãe é muito importante para essa fase inicial da existência do indivíduo, pois através dos cuidados suficientemente bons, o bebê irá aproveitar todas essas situações para amadurecer. Aqui cuidados suficientemente bons são considerados assim porque acontecem na medida e momento compatíveis às necessidades do lactente. É o contato que o bebê estabelece com a mãe, desde o início, que favorece a sua continuidade de ser, cabendo à mãe também, auxiliá-lo nas tarefas iniciais deste estágio, como veremos adiante. Outro tema importante relacionado aos estágios iniciais é que nesta etapa “o primeiro mundo que o bebê habita é necessariamente um mundo subjetivo” (Dias, 2003, p. 168). O mundo subjetivo, significa que na perspectiva do bebê a realidade ainda não é externa, nem interna; pois ainda não tem condições de se perceber separado da mãe e tampouco ter noção da sua dependência dela. Nos primeiros meses de vida, o lactente apresenta algumas necessidades básicas; segundo o autor, quando há saúde, de um lado existe um bebê comunicando suas necessidades e de outro, a mãe, disponível para atender essas necessidades. A amamentação é um dos principais momentos que o bebê comunica suas necessidades e após uma sucessão de mamadas, que Winnicott denomina de ‘primeira mamada teórica’, são construídas as memórias sensoriais dessas experiências.
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Durante a primeira mamada teórica, o bebê estará envolvido em algumas metas, “das quais podem ser descritas como: integração, personalização e relações objetais” (Winnicott, 1963c [1965b]/1983, p. 201), mas somente na presença e com o auxílio da mãe, “a criança pode iniciar um processo de desenvolvimento pessoal e real” (Winnicott, 1965vf [1960]/2001, p. 24). Portanto é possível afirmar que para cada conquista atingida pelo bebê, há uma função materna correspondente a ela. Convém ressaltar que essas tarefas, embora possam ser descritas separadamente, são interdependentes e essenciais para o processo de amadurecimento do bebê, passar por essas tarefas proporciona ao bebê construir seu caminho para a integração e para a constituição de um si-mesmo, tema que será detalhado posteriormente neste estudo. A integração que o autor refere é integração no tempo e espaço, sem a qual se torna impossível a constituição do si-mesmo do indivíduo. Como descreve Dias (2003) o primeiro sentido de tempo que o bebê tem é a continuidade da presença da mãe: “O bebê não sabe da existência permanente da mãe, mas sente os efeitos da presença e, vagarosamente, criando uma memória dessa presença com isso”. (Dias, 2003, p. 157). Inicialmente tanto a temporalização quanto a espacialização são subjetivas e marcadas pelas experiências corporais do bebê, como, por exemplo, o sono, ritmo das mamadas, excreção, entre outras funções corpóreas. A datação do tempo deve acontecer pelos cuidados maternos, que inicialmente se adaptam ao funcionamento fisiológico e corporal do bebê. Sobre a questão do tempo, o autor comenta:
Os bebês não nascem com um despertador pendurado no pescoço, com instruções: amamentação todas às três horas. A alimentação regular é uma conveniência para a mãe […] mas um bebê não começa, necessariamente, querendo uma alimentação regular e as horas certas; de fato, creio que o que um bebê espera é encontrar um seio que aparece quando é procurado e desaparece quando já não é preciso. (Winnicott, 1945a/1982, p. 23)
Quando a mãe, neste período, permanece com os cuidados oferecidos ao bebê, sustentando ‘a situação no tempo’, ela promove a temporalização do lactente, isto é, ao sustentar a situação no tempo, o ambiente proporciona o
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apoio necessário para que o bebê possa fazer pequenas integrações resultantes das suas necessidades satisfeitas. A segunda conquista que o bebê precisa alcançar, refere-se à personalização ou como também é denominado, alojamento da psique no corpo. Paulatinamente, psique e soma vão se integrando, isto acontece à medida que o bebê vai elaborando imaginativamente todos os processos corpóreos reunidos em sua experiência pessoal. Dias descreve “quando o cuidado materno favorece a coesão psicossomática, o eu pessoal é sentido como estando contido nos contornos dados pelo limite da pele.” (2003, p. 211). As principais funções do ambiente que facilitam o bebê no alojamento da psique no corpo são: holding e handling. Holding é a função onde a mãe sustenta o bebê, o segura no colo, dando contorno em todo seu corpo. Segurar firme o lactente, pegá-lo no colo de maneira apropriada, possibilita que a conexão psicossomática se estabeleça, pois por meio disso, pouco a pouco o bebê adquire a sensação de ter um corpo inteiro. É o “ato físico de segurar a estrutura física do bebê que vai resultar em circunstâncias satisfatórias ou desfavoráveis em termos psicológicos”. (Winnicott,1968f [1967]/2006, p. 54). A outra tarefa materna é o handling, esta se refere aos cuidados físicos que a mãe tem com seu bebê, a “Segurar e manipular bem uma criança facilita os processos de maturação”. (Winnicott,1968f [1967]/2006, p. 54). Para facilitar essa função, a mãe precisa se envolver com o corpo do lactente: o banho, as trocas de roupas, entre outras atividades. Ao proporcionar os cuidados corporais do bebê de uma maneira viva, de uma forma não mecânica, por exemplo, através de expressões faciais, ao falar com ele, a mãe oferece diversas experiências físicas e emocionais que o ajudarão a compor as bases da personalização. O bebê terá acesso a diversas sensações corporais, seja de frio, calor, voz da mãe, aconchegos do colo e essas experiências corporais auxiliam a habitar num corpo, a estabelecer uma relação entre a psique e o soma. Sobre este processo de integração psicossomática o autor diz que: “a natureza humana não é uma questão de corpo e mente – e sim uma questão de psique e soma inter-relacionados” (Winnicott, 1988/1990, p. 44).
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Com relação à terceira aquisição, o início das relações objetais, como mencionado anteriormente, Winnicott esclarece que, no início da vida, a primeira realidade do bebê é sempre subjetiva; quer dizer, o bebê não faz nenhum contato com a realidade externa, isso só será possível quando houver um tempo de amadurecimento. Pouco a pouco, a mãe “apresenta” os primeiros objetos ao bebê e torna possível esse contato.
O início da relação objetal – com objetos subjetivos – acontece nos momentos de excitação do bebê. O cuidado materno específico para essa tarefa é a apresentação de objetos […] é preciso que alguém se dê ao trabalho de continuamente apresentar amostras do mundo ao bebê, de forma compreensiva e adequada à capacidade maturacional do momento. (Dias 2003, p. 215)
O relacionamento com os objetos acontece à medida que o bebê faz um movimento em busca de algo e a mãe atende a essa busca exatamente no momento do gesto do lactente.. Nas palavras do autor:
O início das relações objetais é complexo. Não pode ocorrer se o meio não propiciar a apresentação de um objeto, feito de um modo que seja o bebê quem crie o objeto. O padrão é o seguinte: o bebê desenvolve a expectativa vaga que se origina em uma necessidade não-formulada. A mãe, em se adaptando, apresenta um objeto ou uma manipulação que satisfaz as necessidades do bebê, de modo que o bebê começa a necessitar exatamente o que a mãe apresenta. (Winnicott,1965n [1962]/2007, p. 60)

Winnicott aponta que a mãe, ao atender as necessidades do bebê no momento exato que elas surgem, possibilita ao lactente a ilusão de onipotência, de que existe um ‘mundo que foi criado por ele’. Em outras palavras, ao conceber o objeto subjetivo e encontrá-lo na realidade objetiva, o bebê experimenta a ilusão de que o peito não foi encontrado, foi ‘criado’. O autor menciona que “é possível dizer que aos poucos o bebê se torna capaz de alucinar o mamilo no momento que a mãe está pronta para oferecê-lo” (1988/1990, p. 126). Desta forma, a apresentação dos objetos é uma tarefa materna que deve ser realizada na medida certa para o bebê, pois se for feita constantemente, além das necessidades do bebê, este se assusta, se sente invadido pelo mundo. Por outro lado, caso seja realizada abaixo das necessidades, deixará o bebê num vazio, conforme assinalado por Dias “O
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resultado, em qualquer desses casos, não é frustração – uma vez que ainda não há desejo, que é um sentimento altamente sofisticado próprio de um eu unitário – mas quebra na continuidade do ser” (2003 p. 173). Outra preocupação que a mãe deverá ter nesta fase inicial é a apresentação de um ambiente estável e previsível que permita a continuidade do ser’ do bebê, “dessa forma inicia-se com o bebê a concepção da realidade externa, um lugar de onde os objetos aparecem e no qual eles desaparecem” (Winnicott, 1988/1990, p. 126). Com a conquista da realização ou início das relações objetais é que o bebê desenvolve a capacidade de criar objetos dos quais necessita e desta forma, gradativamente, tornar o mundo real.
1.2) Criatividade e espontaneidade
O conceito da criatividade originária, desenvolvido por Winnicott, representou algo novo na psicanálise. Para o autor, este tema não trata apenas da criatividade artística ou dons artísticos, mas algo muito mais complexo e abrangente, pois se refere à ideia de que para a vida ter sentido para o ser humano, esta deve ter alguma relação com o seu mundo subjetivo. O autor relaciona o ser criativo com o sentimento de existência – ser- que o indivíduo adquire no estágio da dependência absoluta, e que deve ser com um alicerce que sustentará todas as outras experiências do ser humano. Para ele, a criatividade
é portanto, a manutenção através da vida de algo que pertence à experiência infantil: a capacidade de criar o mundo. Para o bebê, isso não é difícil; se a mãe for capaz de se adaptar às necessidades do bebê, ele não vai perceber o fato de que o mundo estava lá antes que ele tivesse sido concebido ou concebesse o mundo. (Winnicott, 1986h [1970]/2005, p. 24)
A criatividade originária, é algo inato no ser humano, mas de maneira alguma é automática, pois para que ela se estabeleça será sempre necessária a adaptação absoluta do ambiente no início da vida do bebê. No livro Natureza Humana, o autor retoma o tema:
Devo presumir que existe uma criatividade potencial, e que na primeira mamada teórica o bebê tem sim uma contribuição pessoal a fazer. Se a mãe se adapta suficientemente bem, o bebê conclui que o mamilo e o leite são os resultados de um gesto produzido pela necessidade ou são
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conseqüências de uma ideia que veio montada na crista de uma onda de tensão instintiva. (1988/1990, p. 130)
1.3) Cisão Básica
Um outro tema relacionado com o mundo subjetivo e a realidade objetiva é o pensamento do autor sobre a ‘cisão básica’. Dias (2003) escreve que a cisão essencial “consiste na fenda entre a tendência a abrir-se para as relações com o outro e com o mundo e o isolamento primordial do ser humano” (Dias, 2003, p. 95), isto significa que nos indivíduos saudáveis há uma divisão entre aspectos mais pessoais do seu mundo subjetivo e a realidade objetiva, existindo também um livre trânsito entre esses dois, o que não torna esta divisão algo patológico. Winnicott postula que desde o início da vida, há um estado fundamental no indivíduo, que denominou de solidão essencial. Segundo ele,
No princípio há uma solidão essencial. Ao mesmo tempo, tal solidão somente pode existir em condições normais de dependência máxima. […] Com exceção do próprio início, não haverá jamais uma reprodução exata desta solidão fundamental e inerente. Apesar disso, pela vida afora do indivíduo continua a haver uma solidão fundamental, inerente e inalterável, ao lado da qual continua existindo a inconsciência sobre as condições indispensáveis a este estado de solidão. (1988/1990, p. 154) Para ele, o ser humano carrega em si uma cisão básica entre este estado de recolhimento (solidão essencial) e o relacionamento com o mundo externo e que quando tudo vai bem, o indivíduo transita naturalmente entre esses dois estados. Ele diz que: “No início, antes que cada indivíduo crie o mundo novamente, existe um simples estado de ser, e uma consciência (awareness) incipiente da continuidade do ser e da continuidade do existir no tempo”. (Winnicott, 1988/1990, p. 157). É apenas com o auxílio de um ambiente facilitador, que a passagem entre esses dois mundos será tida como algo saudável, ou seja, para que essa cisão não se torne patológica, será necessária uma adaptação ativa do ambiente. No seu livro Natureza Humana, ele comenta: “A cisão é um estado essencial em todo ser humano, mas não é necessário que ele se torne significativo se a camada protetora da ilusão se tornou possível através do cuidado materno” (1988/1990, p. 158). Quando os cuidados suficientemente bons são oferecidos ao bebê criam-se condições para que o processo de
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integração se inicie. Este processo de integração faz com que essa cisão essencial, com o passar do tempo, se torne menos expressiva. Com o prosseguimento do amadurecimento para uma fase onde a dependência se torna relativa, a capacidade de acessar seu mundo subjetivo permanece no indivíduo. Já no indivíduo privado desses cuidados suficientemente bons, o autor menciona:
a cisão torna significativa, com os seguintes resultados: A raiz do verdadeiro self dotado de espontaneidade permanece relacionada onipontetemente ao mundo subjetivo, incomunicável, e o falso self baseado na submissão (destituído de espontaneidade) relaciona-se com o que chamamos de realidade externa. (Winnicott, 1988/1990, p. 158) Desta forma, não há comunicação entre o mundo subjetivo com a realidade externa e o mundo externo passa não ter sentido para o indivíduo.
Capítulo II – Os conceitos de saúde e doença em Winnicott
Uma das contribuições que Winnicott fez à psicanálise foi elaborar uma teoria que explicasse como ocorre o desenvolvimento emocional saudável do ser humano. Assim, ao estudar os aspectos saudáveis deste processo, foi possível entender também, como se estabelece o adoecer psíquico no indivíduo; pois a mesma linha de amadurecimento que orienta o desenvolvimento emocional do ser humano, também indica o estudo dos distúrbios emocionais. O conceito de saúde proposto pelo autor envolve todos os aspectos contidos no processo de amadurecimento do ser humano, tais como: a integração da sua personalidade, a relação que o indivíduo estabelece entre seu mundo subjetivo e a realidade externa e o sentido da sua existência pessoal. Também apresenta a importância da interação com o ambiente, uma vez que este fator é fundamental na constituição e no desenvolvimento do indivíduo. Desta forma, ao estudar os aspectos de saúde e doença do ser humano é de total relevância compreender como aconteceu a relação do desenvolvimento da criança com o ambiente, pois um ambiente suficientemente bom, fará a adaptação necessária para cada necessidade dos diferentes momentos do desenvolvimento do indivíduo. Nas palavras do autor:
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O ambiente facilitador e seus ajustes adaptativos progressivos às necessidades individuais poderiam ser isolados, para estudo, como uma parte do estudo da saúde. Incluir-se-iam as funções paternais, complementando as funções da mãe, e a função da família (Winnicott, 1971f [1967]/2005, p. 5)
Com relação a doença, Winnicott aponta também que dependendo do momento que houve uma falha ambiental, será possível definir a natureza da patologia psíquica que o indivíduo apresentará. Moraes comenta que:
Um problema adicional relacionado à possibilidade de quebra e retomada da continuidade do ser é a dificuldade em determinar o momento em que um padrão de anormalidade se estabelece. Esse aspecto é muito significativo na teoria do amadurecimento pessoal, pois é com a identificação de quando se estabelece um padrão definitivo ou repetitivo na teoria de quebra de continuidade da linha de vida da criança que se poderá identificar a natureza, a intensidade e as sobreposições que envolvem o distúrbio psíquico – psicose, depressão ou neurose – dentro da linha do amadurecimento. (Moraes, 2014, p. 157)

Assim para compreender a natureza dos distúrbios psíquicos, é necessário avaliar e analisar a origem da falha ambiental ocorrida durante o desenvolvimento infantil, a fim de se detectar a etiologia do distúrbio.
2.1 Conceito de saúde
Winnicott parte do pressuposto que “o ser humano saudável é emocionalmente maduro tendo em vista sua idade no momento” (Winnicott, 1988/1990, p. 30), isto significa que, ao abordar o tema saúde, é necessário entender o desenvolvimento maturacional do indivíduo a fim de compreender se há uma compatibilidade entre o desenvolvimento emocional e a idade cronológica, ainda que o autor deixe um espectro longo para essa equivalência. Para o autor, saúde, não necessariamente está relacionada à ausência de sintomas físicos, pois na sua visão uma pessoa pode estar doente fisicamente, mas saudável psiquicamente; ou ainda, um indivíduo pode ter boa saúde física, mas não encontrar nenhum sentido para sua vida. Desta forma, Winnicott amplia o conceito de saúde, relacionando-o com a capacidade que o indivíduo tem de sentir-se vivo e real, de integrar seu mundo subjetivo com a realidade externa e de se responsabilizar por suas atitudes. Nas palavras dele:
se fica claro que não nos satisfazemos com a idéia da saúde como uma simples ausência de doença […] A vida de um
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indivíduo saudável é caracterizada por medos, sentimentos conflitivos, dúvidas, frustrações, tanto quanto por características positivas. O principal é que o homem ou a mulher sintam que estão vivendo a sua própria vida, assumindo responsabilidade pela ação ou pela inatividade, e sejam capazes de assumir os aplausos pelo sucesso ou as censuras pelas falhas. (Winnicott, 1971f [1967]/2005, p. 10).

Com o decorrer do seu desenvolvimento, o indivíduo saudável poderá ingressar na vida adulta carregando consigo as tarefas de amadurecer, de acumular experiências que lhe dêem sentido pessoal, capacidade para ‘acreditar em’ e confiança e em tudo mais que a vida exige. Portanto ter saúde, numa visão winnicottiana, implica em ter sentido pessoal na própria existência, em contato com a realidade, preservando sua criatividade pessoal. Como comenta o autor:
“É uma característica da maturidade, e consequentemente da saúde que a realidade psíquica interna do indivíduo se enriqueça o tempo todo com experiências e faça com que as experiências reais sejam o tempo todo ricas e reais” (Winnicott, 1986g [1964]/ 2005, p. 189)
Em O conceito de indivíduo saudável (1971f), Winnicott mais uma vez expande o conceito de saúde, colocando a ideia de que “o bônus mais importante propiciado pela saúde são algumas experiências na área cultural” (1971f [1967]/2005, p. 21) e que uma sociedade democrática e saudável “é em si mesma um constructo pelo qual os indivíduos saudáveis são responsáveis.”(1971f [1967]/2005, p. 22). Isto significa que ao longo do seu amadurecimento, a onipotência irá se dispersar e os objetos subjetivos darão lugar a um espaço de transição, onde se situam as criações culturais, como a religião, arte e grupos sociais.
2.2) Conceito de doença
Como mencionado anteriormente, a linha do amadurecimento guia o entendimento do autor sobre a definição de saúde, e também direciona a compreensão do conceito de doença psíquica. Na perspectiva winnicottiana, a doença caminha no sentido oposto ao do amadurecimento. Um sujeito pode ser considerado doente quando, entre outras coisas, está impossibilitado de amadurecer, de integrar na personalidade, como parte do si-mesmo, aquilo que a vida e o viver trazem
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consigo, isto implica em imobilidade e aprisionamento, devido ao sentimento de ameaça que aparece prematuramente; é por este motivo que para discutir o adoecer, é necessário também compreender o desenvolvimento normal do ser humano. Quando há falha do ambiente há a interrupção no amadurecimento do indivíduo; essa paralisação impede a preservação e continuidade do ser do bebê. Winnicott nomeia essa ruptura no desenvolvimento do bebê de trauma. Nas suas palavras:
“Trauma significa quebra de continuidade na existência de um indivíduo. É somente sobre uma continuidade no existir que o sentido do self, de se sentir real, de ser, pode finalmente estabelecer como uma característica da personalidade do indivíduo” (1971f [1967] /2005, p. 5).
Nesta visão, as doenças psíquicas não são classificadas através da sintomatologia apresentada pela psiquiatria, mas sim através de um diagnóstico maturacional, tendo sempre como ponto de origem o momento que o processo de amadurecimento ficou estagnado: “o trauma, portanto, varia de significado, de acordo com o estágio do desenvolvimento emocional da criança” (Winnicott, 1989d [1965] /1994, p. 113). Desta forma, não é possível explicar um distúrbio psíquico sem conhecer a história do sujeito e a falha ambiental que originou tal patologia. O autor menciona alguns grupos de doenças mentais: a psicose, neurose e a depressão. Este trabalho dedica-se mais ao detalhamento da psicose por relacionar-se com o tema de estudo, como veremos a seguir. Quando os traumas acontecem no primeiro estágio do desenvolvimento, a dependência absoluta, as falhas ambientais repercutem diretamente na constituição do si-mesmo e nos alicerces da personalidade. A confiabilidade no ambiente fica abalada e o bebê perde a ‘continuidade de ser’. Diante desta situação, o lactente fica sujeito às angústias chamadas de agonias impensáveis, caracterizadas como traumas que interrompem sua continuidade de ser. Winnicott utiliza o termo agonia, para descrever o processo de aniquilação que o bebê experimenta diante da interrupção dos cuidados suficientemente bons e “impensáveis” por acontecer num momento tão inicial da vida do lactente, onde ele ainda não é capaz de entender ou mesmo nomear os traumas vivenciados. Galván comenta que:
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Para Winnicott, toda interrupção na continuidade de ser é acompanhada por uma angústia impensável, um sofrimento muito primitivo – que ocorre em um momento em que o simesmo não está constituído e ultrapassa a capacidade do bebê de integrar a vivência – que é da ordem da desintegração, de se desmanchar em pedaços, não se sentir no corpo, estar solto no universo sem conexão com algo ou com alguém. (Galván, 2013, p. 87)
É possível afirmar ainda que, esses traumas interrompem o processo de amadurecimento do indivíduo, dificultando a integração, personalização, sua capacidade de se relacionar com objetos e finalmente o estabelecimento da identidade pessoal. A fim de lidar com esta situação traumática, o bebê pode desenvolver defesas contra estas agonias, que constituem a doença psicótica. Sobre psicose o autor comenta:
Falhas do ambiente favorável resultam em falhas no desenvolvimento da personalidade do indivíduo e no estabelecimento do self do indivíduo, e o resultado é chamado esquizofrenia. O colapso esquizofrênico é o inverso do processo maturativo da infância mais precoce. (Winnicott, 1965h [1959]/ 2007, p. 124)
Entre as defesas organizadas pelo indivíduo psicótico, existe uma de considerável importância na teoria winnicottiana, objeto deste estudo: a defesa do falso si-mesmo. Trata-se de uma defesa cujo principal objetivo é proteger o verdadeiro si-mesmo das invasões do ambiente e do risco de aniquilamento, advindas de um tipo específico de maternagem em estágios primitivos do desenvolvimento do ser humano.
Capítulo III –O uso que Winnicott faz do termo si-mesmo e ego
Neste capítulo será apresentado o entendimento do autor sobre o termo si-mesmo, como se dá a sua constituição no processo de amadurecimento e posteriormente a diferença que Winnicott faz entre os conceitos de ‘si-mesmo’ e ‘ego’. A constituição do si-mesmo, refere-se ao estatuto unitário e integrado alcançado pelo ser humano durante seu processo de amadurecimento. Mas como o indivíduo atinge um eu integrado e unitário? Esse processo de integração acontece de maneira gradual, pois cada vez que o bebê precisou de algo e teve suas necessidades atendidas, algum sentido pessoal e de integração são formados. Essas integrações também são realizadas à medida
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que o bebê alcança as conquistas esperadas nesta etapa, a integração do espaço/tempo, personalização e relação com objetos. Winnicott aponta que a “integração no ser humano assume uma ampla variedade de formas, uma das quais é o desenvolvimento de um arranjo operacional satisfatório entre a psique e o soma” (Winnicott, 1971d [1970]/2007, p. 209) e isso torna-se possível durante as inúmeras experiências de cuidados que o bebê recebe nesta fase inicial. Na abordagem winnicottiana os termos ‘si-mesmo’ e ‘ego’ não são sinônimos, e se diferenciam do sentido empregado na psicanálise tradicional. Dias (2003) esclarece que o autor emprega dois sentidos para o termo si-mesmo, o primeiro deles “é o resultado de uma série de conquistas do processo de integração e só se estabelece de um modo mais consistente no estágio em que o bebê alcança uma identidade” (Dias, 2003, p. 144). Nesta definição, a constituição do si mesmo só acontece quando o bebê integra sua personalidade, em decorrência dos cuidados suficientemente bons oferecidos pelo ambiente facilitador. Neste caso, a nomenclatura é utilizada para representar a conquista alcançada pelo bebê no estágio que o autor chamou de EU SOU; estágio esse marcado pela conquista da criança em se separar da da unidade mãe/bebê e em reconhecer um exterior e um interior. No segundo sentido, apresentado pelo autor posteriormente em sua obra, o conceito do termo si-mesmo é ampliado “para qualquer grau ou forma de integração a partir da não-integração, mesmo quando essa integração é incipiente e puramente momentânea” (Dias, 2003, p. 145), ou seja, a constituição do si-mesmo é resultado de pequenas integrações feitas no início da vida do bebê, nas etapas da dependência absoluta e relativa. Quando se fala em desenvolvimento do ego, na psicanálise winnicottiana, precisa-se abordar todo o processo de integração do ser humano, bem como a relação desse processo com o ambiente facilitador, pois:
A mãe suficientemente boa alimenta a onipotência do lactante e até certo ponto vê sentido nisso. E o faz repetidamente. Um self verdadeiro começa a ter vida, através da força dada ao fraco ego do lactente pela complementação pela mãe das expressões de onipotência do lactente. (Winnicott, 1965m[1960]/1983, p. 133)
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Em outras palavras, o ego do bebê torna-se forte ou fraco quando o processo integrativo é forte ou não e isso está diretamente relacionado ao apoio que a mãe oferece ao lactente. Conforme o autor escreve:
de começo, o ego do bebê é, ao mesmo tempo, débil e poderoso. É débil ao extremo se não existe um meio ambiente facilitador satisfatório. Em quase todos os casos, contudo, a mãe ou a figura materna fornecem apoio ao ego, e, se ela faz isso de modo suficientemente bom, o ego do bebê é muito forte e possui sua própria organização (Winnicott, 1989m [1964]/2007, p. 81) Galván (2013) aponta a diferenciação dos termos si-mesmo e ego da seguinte maneira:
Podemos entender que há uma relação entre ego e si-mesmo de modo que, em linhas gerais, à medida que o ego impele o indivíduo em direção à integração em uma unidade, que põe em marcha os processos integrativos – com a sustentação ambiental necessária –, o si-mesmo vai se constituindo e seguindo na direção da independência. (Galván, 2013, p.46).
Desse modo pode-se afirmar que o si-mesmo é o resultado alcançado pelo indivíduo ao longo de seu amadurecimento, quando ele integra os aspectos espontâneos e reativos da sua personalidade, enquanto que “pode-se usar a palavra ego para descrever a parte da personalidade que tende sob condições favoráveis, a se integrar como uma unidade” (Winnicott, 1965n [1962]/1983, p. 55).
3.1) O verdadeiro si-mesmo
Como mencionado anteriormente, a constituição do si-mesmo se dá por meio de um conjunto de integrações feitas no início da vida do bebê, neste capítulo pretende-se desenvolver a ideia do autor sobre o si-mesmo verdadeiro. Winnicott postula que o bebê apresenta dois estados no período da dependência absoluta: os estados tranquilos e excitados. Os estados tranquilos, são os momentos de quietude do lactente, ocasiões onde ele se “entrega à contemplação, elaborando imaginativamente os estados fisiológicos da digestão, ou envolvido pelos ruídos, cheiros e movimentos do ambiente” (Dias, 2003, p. 191), ou seja, períodos que o bebê não está em busca de nada, apenas entregue a um estado relaxado.
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O outro estado que o autor coloca são os estados excitados. São momentos que “desenvolve-se uma tensão que, rapidamente, se transforma numa urgência[…] o bebê é tomado por uma expectativa indeterminada” (Dias, 2003, p. 174). A partir deste estado do bebê é que surge o gesto espontâneo e que ao ser correspondido e atendido pelo meio é que as primeiras integrações surgem. Na saúde, a mãe mantém a ilusão de onipotência necessária para o bebê, conforme descrito no capítulo 1.1 deste estudo. Ela compreende as necessidades dele e as provê da maneira adequada. O si mesmo verdadeiro começa a ter vida, a partir do encontro do lactente com o objeto e suas necessidades serem atendidas ao seu tempo. Um exemplo da adaptação da mãe ao bebê é quando a mãe oferece o seio no momento que o bebê demostra estar com fome, este impulso será vivido como algo real e pessoal, que ele criou; porém quando acontece de outra forma, o seio aparece quando o bebê não está com fome, este impulso será algo externo a ele, sem sentido, podendo ser compreendido também como uma invasão. Como o autor escreve:
Periodicamente um gesto do lactente expressa um impulso espontâneo; a fonte do gesto é o self verdadeiro, e esse gesto indica a existência de um self verdadeiro em potencial. Precisamos examinar o modo como a mãe responde a esta onipotência infantil revelada em um gesto (ou associação sensório- motora). Ligo aqui a ideia de um self verdadeiro com a do gesto espontâneo. (1965m[1960]/1983, p 133).
Desse modo é possível afirmar que o si-mesmo verdadeiro só é possível de se constituir, quando o impulso parte do bebê e não do ambiente que cuida dele, ou seja, a partir das necessidades demonstradas pelo bebê e atendidas prontamente pela mãe. Esse impulso pessoal, nomeado pelo autor de ‘gesto espontâneo’, nasce de um estado denominado de ‘estados de não integração’. Dias coloca que Winnicott utiliza essa expressão para definir “o estado natural de extrema imaturidade do bebê e significa falta de reunião num si-mesmo, falta de integração no espaço e no temo, falta de integração psicossomática, enfim, falta de inteireza” (Dias, 2003, p. 128). Portanto, é quando a mãe se dispõe a se entregar às necessidades do bebê na fase da dependência absoluta, além de preservar a criatividade
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original, ela promove ao bebê três pontos importantes à constituição do simesmo verdadeiro:
Primeiro preservando a área de ilusão de onipotência […] onde poderá acontecer um encontro com o objeto. Segundo, ela possibilita ao bebê alcançar o si-mesmo, favorecendo uma experiência de identidade em que ele se torna o objeto […]. Por último, é ela mesma o objeto (subjetivo) – o seio, o calor, o leite etc. (Dias, 2003, p. 222)
A mãe que compreende seu bebê e suas necessidades estabelece com ele uma comunicação, que não necessariamente é verbal, mas silenciosa e íntima, possibilita a implantação da confiabilidade do bebê, aspecto também essencial à constituição do si-mesmo verdadeiro. “O bebê passa, com muita facilidade, da integração ao conforto descontraído da não-integração, […]. Ele passa a confiar nos processos internos que levam à integração em uma unidade” (Winnicott, 1968d[1987a]/2006, p.86). Conforme o processo de amadurecimento do bebê se desenvolve, a confiabilidade experimentada no seu início de vida passa a ser uma crença, o indivíduo passa a “acreditar em”, a ter esperança de “que o mundo é encontrável e confiável, de que em algum lugar existe algo que faz sentido, ou alguém compreende e responde à necessidade” (Dias, 2003, p. 168). Essa comunicação inclui todos os aspectos do modo como a mãe se relaciona com o bebê, por exemplo, seu tom de voz, seu olhar, a firmeza do colo que oferece. O bebê “não ouve ou registra a comunicação, mas apenas os efeitos da confiabilidade; é algo que se registra no decorrer do seu desenvolvimento” (Winnicott, 1968d[1987a]2006,p.87). É por meio das conquistas iniciais e a vivência de um verdadeiro simesmo é que o indivíduo conquista a unidade, sente-se inteiro e que pode estabelecer um relacionamento entre o EU e a realidade externa.
Capítulo IV – O falso si-mesmo
Neste item, pretende-se detalhar um pouco mais sobre a defesa do falso si-mesmo. Como ela se estabelece e quais as consequências para o indivíduo.
4.1) A etiologia da defesa do falso si-mesmo
A defesa do falso si-mesmo é formada quando há falha na maternagem nos estágios iniciais e da formação da base da personalidade, as falhas não
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são ocasionais, resultando em falta de confiança no ambiente, que se torna imprevisível para o bebê ainda muito imaturo. Esses fracassos ambientais são sentidos pelo lactente como ameaças à sua existência, conforme descrito no capítulo 2.2 deste trabalho. Nestes casos, quando as angústias impensáveis tornam-se presentes e para lidar com as sensações de aniquilamento decorrentes destas angústias, o indivíduo estabelece defesas, entre elas, o falso si-mesmo. Conforme o autor menciona: “É possível traçar a origem do falso self, que pode então ser visto como uma defesa, a defesa contra o que seria inimaginável, a exploração do self verdadeiro, que resultaria em seu aniquilamento”. (Winnicott, 1965m[1960]/1983, p. 134) Portanto, ao analisar a etiologia do falso si-mesmo, é oportuno pesquisar o estágio inicial do amadurecimento do bebê. Nas palavras dele:
Nesse estágio, o lactente está não integrado na maior parte do tempo, e nunca completamente integrado; a coesão dos vários elementos sensórios motores resulta do fato de que a mãe envolve o lactente, às vezes fisicamente, e de modo contínuo simbolicamente. Periodicamente um gesto do lactente expressa um impulso espontâneo; a fonte do gesto é o self verdadeiro, e esse gesto indica a existência de um self verdadeiro em potencial. (Winnicott, 1965m[1960]/1983, p. 133)
É tarefa da mãe, como vimos anteriormente, apresentar o mundo ao seu bebê nos estágios iniciais, a partir do gesto dele. Quando ela falha e:
não é capaz de complementar a onipotência do lactente, e assim falha repetidamente em satisfazer o gesto do lactente; ao invés, ela o substituiu por seu próprio gesto, que deve ser validado pela submissão do lactente. Essa submissão por parte do lactente é o estágio inicial do falso self, e resulta da inabilidade da mãe de sentir as necessidades do lactente. (Winnicott, 1965m[1960]/1983, p. 133)
Ou seja, quando a mãe não consegue proporcionar ao bebê repetidas experiências de tornar real o seu gesto espontâneo, este reage ao que lhe é oferecido; quando a reação persiste, o lactente perde contato com seu verdadeiro si-mesmo; ele continua a crescer, mas com base nas defesas e não no si-mesmo verdadeiro, no seu cerne pessoal.
4.2) Qual o prejuízo do falso si-mesmo?
Como visto anteriormente, para o autor, quando o bebê precisa desenvolver uma defesa do tipo falso si-mesmo, ele se ajusta ao gesto da mãe. Em função desta constante adaptação do bebê ao ambiente, e não o inverso, o
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bebê perde o impulso criativo e sua espontaneidade fica enfraquecida. Quando isto acontece, com pouco contato com seu mundo subjetivo, o indivíduo está designado a viver uma vida empobrecida de experiências reais, constituindo uma identidade falsa e artificial. Winnicott diz que:
Através deste falso self o lactente constrói um conjunto de relacionamentos falsos, e por meio de introjeções pode chegar até uma aparência de ser real, de modo que a criança pode crescer se tornando exatamente como a mãe seca, tia irmão ou quem quer que no momento domine o cenário (Winnicott, 1965m[1960]/1983, p. 134)
É possível observar nas pessoas cuja vida é empobrecida de experiências reais, um sentimento de vazio; o indivíduo perde o contato com suas reais necessidades, interesses e “há um crescente sentimento de futilidade e desespero por parte do indivíduo (1965h[1959]/1983, p. 122)”. Por ter o ambiente introjetado, esses indivíduos criam uma espécie de dependência das exigências ou solicitações do ambiente, pois sem essa demanda vinda do mundo externo eles não conseguem conduzir sua vida, uma vez que não contam com seu mundo subjetivo para nortear suas escolhas, decisões e atitudes. Nos casos onde o falso si-mesmo tomou o lugar do verdadeiro: “o simesmo verdadeiro não toma parte nas reações, preservando assim a continuidade do ser. No entanto, esse si-mesmo verdadeiro escondido sofre o empobrecimento devido à falta de experiências”. (Winnicott, 1956a [1955/2000, p. 395).
4.3) Classificações do falso si-mesmo
Winnicott classifica cinco níveis de falso-si mesmo, que irão “desde o aspecto polido normal do self ao marcadamente clivado falso e submissão do self, que é confundido com a criança inteira”. (Winnicott, 1965m[1960]/1983, p. 134. Embora ele descreva teoricamente esses níveis, na prática clínica, delimitar as nuances dessas divisões é uma tarefa mais complexa de ser realizada. O próprio autor esclarece que o essencial nesta defesa é reconhecer os extremos do nível da doença, para que seja possível “achar lugar em nosso trabalho clínico para a possibilidade de um alto ou de um baixo grau de falso self como defesa” (Winnicott, 1965m[1960]/1983, p. 137) e ressalta também a
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importância do diagnóstico desse distúrbio, pois a análise que se transcorre com base no falso si-mesmo, pode ser dada como inútil para o paciente. Galván coloca que uma das possibilidades de diagnóstico dos níveis do falso si-mesmo é localizar o momento em que a invasão ocorreu, dessa forma quanto mais:
precoce a necessidade de estruturar essa defesa, menos integração pôde ser alcançada e, com o si-mesmo verdadeiro protegido desde muito cedo, menos oportunidade o bebê teve de viver experiências nas quais a espontaneidade estava envolvida” (Galván, 2013, p. 102)
Na normalidade, indivíduo tem seu lado submisso, aspecto esse que diz respeito ao convívio social, pois de certa forma “cada pessoa tem um self educado ou socializado, e também um self pessoal privado que só aparece na intimidade” (Winnicott, 1986f [1970]/2005, p. 55). Desta forma, é possível afirmar que em indivíduos saudáveis pode haver também essa divisão entre verdadeiro e falso si-mesmo, mas neste caso, o indivíduo não perde contato com seu verdadeiro si-mesmo. O autor comenta que o uso moderado desta defesa é essencial para o convívio em sociedade. Nas suas palavras:
Há um aspecto submisso do self verdadeiro no viver normal, uma habilidade do lactente de se submeter e de não se expor. A habilidade de conciliação é uma conquista. O equivalente ao self verdadeiro no desenvolvimento normal é aquele que se pode desenvolver na criança no sentido das boas maneiras sociais, algo que é adaptável. Na normalidade essas boas maneiras sociais representam uma conciliação. (Winnicott, 1965m[1960]/1983, p. 137)
Este aspecto da personalidade é importante, não só para proteger o verdadeiro si-mesmo de ficar exposto o tempo todo, como também para que o indivíduo tenha um bom convívio social, se adapte em algum nível às normas e exigências do mundo externo; mas mesmo com parte deste si-mesmo submisso, existe uma pessoa em contato com sua espontaneidade e criatividade pessoal. Galván esclarece:
O falso si-mesmo que se expressa no contato social equivale, se tudo corre bem no amadurecimento, a um aspecto da personalidade que não está dissociado da totalidade da pessoa e que se desenvolve apenas depois que o lactente pôde viver a experiência de ser, habitando a realidade subjetiva. O aspecto conciliador do si-mesmo, como poderia também ser denominado o falso si-mesmo da atitude social ou o equivalente saudável do falso si-mesmo. (Galván, 2013, p. 119)
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A criança tem contato com seu mundo pessoal, mas também aprende a fazer certas concessões com relação às exigências da realidade externa. “Pelo fato da aceitação da realidade não se dar em detrimento da espontaneidade e da singularidade da pessoa, ela não significa, propriamente, submissão e não é um problema.”(Galván, 2013, p.120). No outro extremo da defesa, tem o falso si-mesmo de grau mais intenso, onde o falso se estabelece como se fosse real, e se “constrói na base da submissão” (1965h[1959]/1983, p. 122). Ele se estrutura com sua função defensiva, ou seja, “organiza-se com a intenção de manter o mundo à distância, mas existe um outro e mais verdadeiro self escondido dos observadores, e portanto protegido” (Winnicott, 1989/1990, p. 128). Indivíduos com esse distúrbio podem obter um notável sucesso social ou profissional, e até mesmo apresentar um nível de inteligência bastante considerável, porém não escapam dos sentimentos de futilidade e falta de sentido na vida. O autor destaca ainda que estes indivíduos podem apresentar sintomas para encobrir o medo colapso e das agonias impensáveis, advindas das sensações de aniquilamento, principalmente “nas ocasiões em que o script não pode ser seguido ou não existe – quando por exemplo, enfrenta situações nas quais escolhas e direcionamentos pessoais se fazem necessários” (Galvan, 2013, p. 104). Seguindo esta classificação, o autor aponta mais 3 graus de falso simesmo, descritos a seguir de acordo com o nível de intensidade desta defesa. Num nível menos saudável, o autor aponta outro grau de falso simesmo, “o falso self defende o self verdadeiro; o self verdadeiro, contudo, é percebido como potencial e é permitido a ele ter uma vida secreta” (Winnicott, 1965m[1960]/1983, p. 130). Neste caso, o paciente desenvolve um falso simesmo para lidar com o ambiente que falhou, sem oprimir por completo seu verdadeiro. Num grau menos intenso, onde “o falso self tem como interesse principal a procura de condições que tornem possível ao self verdadeiro emergir” (Winnicott, 1965m[1960]/1983, p. 134). Este nível de defesa pode aparecer no momento seguinte do estágio da dependência absoluta, quando a mãe começa o processo de desadaptação. A adequação da mãe às necessidades do bebê deve diminuir de maneira gradual, mas nestes casos, essa desadaptação é
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feita num ritmo no qual o bebê não consegue acompanhar, fazendo com que ele desenvolva seus processos mentais de maneira prematura. Em seu texto A mente e sua relação com o psicossoma (1949), o autor discrimina o funcionamento da psique e da mente durante o processo de amadurecimento. Ele relata que em alguns pacientes o funcionamento mental se dá de maneira muito precoce devido às falhas no atendimento das necessidades iniciais do indivíduo; relacionando também esse desenvolvimento prematuro da mente ao estabelecimento do falso si-mesmo, que se compõe para lidar com a maternagem mal-sucedida. Nas palavras dele:
Um resultado mais comum dos graus menos elevados da maternagem tantalizante nos estágios iniciais é que o funcionamento mental passa a existir por si mesmo, praticamente substituindo a mãe boa e tornando-a desnecessária. Clinicamente, isto pode acontecer em concomitância com uma dependência da mãe real, e um falso crescimento pessoal com base na submissão. (Winnicott, 1954a [1949]/2000, p. 336).
No grau da defesa mais próxima da saúde, o autor explica que há um nível de falso si-mesmo que “é construído sobre identificações” (Winnicott, 1965m[1960]/1983, p. 134); é bem provável que nestes casos, o indivíduo teve um ambiente inicial em que houve uma adaptação parcial da mãe e pôde vivenciar momentos de um ambiente facilitador, porém com as falhas sofridas desenvolveu uma forte tendência em corresponder às expectativas do mundo externo. Nestes níveis mais brandos do falso si-mesmo “não é tanto o estado primário de cisão que iremos encontrar, e sim uma organização secundária cindida que indica uma regressão diante de dificuldades encontradas num estágio posterior do desenvolvimento emocional” (Winnicott, 1989/1990, p. 129), ou seja, indivíduos que tiveram uma adaptação razoavelmente adequada no início da vida, mas que ao ingressar no estágio posterior, o EU SOU, por falhas ambientais na facilitação desta tarefa, o bebê poderá se defender de alguma forma.
V) Considerações Finais
Esse estudo se baseia nos estudos de D.W. Winnicott, que em sua teoria propõe mudanças na conceituação realizada pela psicanálise tradicional elaborada por Freud. O autor redireciona o foco das questões intrapsíquicas
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para uma psicanálise relacional, mudando o paradigma da saúde psíquica na resolução do Édipo, para uma relação em que o ambiente promove a saúde através dos cuidados suficientemente bons oferecidos ao indivíduo, principalmente no início da sua vida. Desta forma, os fundamentos que norteiam o pensamento de Winnicott sobre desenvolvimento emocional primitivo estão pautados na teoria do amadurecimento pessoal, levando em conta os fatores inatos ao desenvolvimento e a importância do ambiente que proporciona o amadurecimento do ser humano. Esta abordagem menciona a grande importância dos estágios iniciais do desenvolvimento, principalmente o estágio nomeado de dependência absoluta, pois este é o momento onde os alicerces da personalidade são constituídos. A constituição do si-mesmo verdadeiro, bem como uma identidade unitária e uma existência que dê ao indivíduo uma sensação de estar vivo e de se sentir real são conquistas graduais alcançadas ao longo do seu desenvolvimento, sempre com o auxílio do ambiente que facilite o alcance dessas conquistas. Os conceitos de saúde e doença são tratados pelo autor a partir do amadurecimento pessoal, em que a saúde decorre do ambiente facilitador possibilitar o crescimento inato a partir das necessidades do indivíduo para que ele alcance a maturidade psíquica e a doença psíquica tem a sua etiologia na interrupção da continuidade do indivíduo, impedindo que este conquiste o seu desenvolvimento pessoal. Isto quer dizer que, na ausência de uma provisão ambiental adequada, as conquistas relativas ao amadurecimento podem ser perdidas e este processo sofrerá uma interrupção. Com base no momento que ocorreu a paralisação no amadurecimento é constituída um tipo específico de patologia. Esse trabalho teve como objetivo estudar o conceito que Winnicott formulou sobre o falso si-mesmo e como o autor colaborou no entendimento e diagnóstico desse distúrbio. Para o autor, esse distúrbio psíquico, de origem relacional, está ligado a uma maternagem insuficiente nos estágios iniciais do desenvolvimento do indivíduo. O estudo esclareceu também que, o falso si-mesmo é uma defesa que se estabelece durante as primeiras relações objetais do indivíduo, que são experienciadas com a mãe, e que não foram realizadas de acordo com as
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necessidades do bebê. Desta forma, para preservar seu verdadeiro si-mesmo do aniquilamento, o lactente realiza uma cisão entre o verdadeiro e o falso simesmo, se relacionando com a realidade externa a partir da casca e não do seu cerne, da sua essência; resultando em relacionamentos baseados na reatividade e submissão. Diante disso, o indivíduo mantém uma existência vazia e sem sentido, sem contato com seu impulso e criatividade pessoal, necessitando constantemente da demanda do ambiente, por não poder contar com sua própria espontaneidade. O trabalho faz também uma breve descrição dos diferentes graus de cisão do falso si-mesmo postulados por Winnicott, desde o mais próximo a saúde até o mais patológico, onde o indivíduo perde total contato com sua essência. Enfim, a importância de se realizar o entendimento do falso si-mesmo é decorrente do tipo de atendimento que será feito para este paciente. Esses indivíduos necessitam que o analista tenha o conhecimento da origem do trauma para realizarem a recuperação do processo de amadurecimento pessoal. O analista que não compreender esse tipo de etiologia não perceberá que apesar desses pacientes apresentarem uma vida organizada ou no que poderia ser considerado dentro da normalidade, não conseguiram constituir o si-mesmo e criaram defesas para que pudessem se adaptar às invasões sofridas. Neste caso, o que Winnicott propõe, é que com esses pacientes a técnica da interpretação sugerida pela psicanálise tradicional não é a mais indicada e no lugar dela, o autor aponta que o manejo clínico é mais favorável, pois o setting analítico se adapta às necessidades do indivíduo, fazendo com que ele retome o seu amadurecimento pessoal, dentro de um ambiente confiável.
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